É impossível que já não tenham colhido todos os morangos maduros ou em vias de amadurecer deste campo! Mas as pessoas continuam a vir, a pegar seu baldinho e a enchê-lo de morangos. O dia inteiro, dia após dia. Imagino que chegará um momento em que se engalfinharão, brigando pelos últimos morangos.
O campo de morangos que vejo pela janela do meu quarto está sempre cheio de gente. Durante todo o dia chegam pessoas de carro, de bicicleta ou a pé, pegam o seu baldinho numa barraquinha e vão colher morangos, que pagam na saída. Não entendo muito de morangos fora da taça e não sei se o que vejo da janela é uma plantação maior ou menor do que o normal, mas, calculando o número de colhedores em relação à extensão do campo, só no período sob minha supervisão, desconfio que alguém anda repondo morangos durante a noite. É impossível que já não tenham colhido todos os morangos maduros ou em vias de amadurecer deste campo! Mas as pessoas continuam a vir, a pegar seu baldinho e a enchê-lo de morangos. O dia inteiro, dia após dia. Imagino que chegará um momento em que se engalfinharão, brigando pelos últimos morangos. Nós não chegaremos a esse ponto. Só precisaremos colher no campo árido de assuntos que precede o início da Copa até a bola começar a rolar oficialmente, na sexta-feira. Até agora cada um foi procurar seus morangos onde pode. A partir de sexta-feira teremos assunto certo. E eu prometo nunca mais falar no campo de morangos que vejo da janela do meu quarto.
Mas enquanto a bola não rola... Estamos a poucos quilômetros de Königstein, onde está a seleção, e a não muito mais quilômetros de Frankfurt, a grande cidade da região. É uma área de pequenos lugarejos, todos ligados por trens suburbanos a Frankfurt e, nos disseram, com um dos mais altos níveis de renda por cabeça da Alemanha. Uma zona residencial, semi-rural, onde se criam cavalos (e se colhem morangos) e onde você não sabe se inveja o conforto e a segurança ou se se consola imaginando o tédio. Aos poucos vamos descobrindo as possibilidades dos arredores um razoável restaurante chinês no shopping center aqui perto, um grego maluco em Königstein que tomava um ouzo para cada um que nos servia, um italiano em Bad Soden mas também decifrando horários de ônibus e trens para eventualmente ir a Frankfurt e escapar de tanta paz. O perigo de ficar, assim, um tempo no primeiríssimo mundo é a gente se acostumar.
Olha aí, já é o fim do dia e continua chegando gente no campo de morango que vejo da janela do meu quarto. Já sei! É a turma que vem colocar os morangos para os colhedores de amanhã.
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