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Em Paris, onde estive nas férias, saiu muita coisa na imprensa sobre a visita do Papa ao Brasil, mas via-se mais reportagens sobre o crescimento das igrejas pentecostais e neopentecostais no país do que sobre a recepção dos católicos a Bento XVI. Comentadas também a crítica do Papa ao hedonismo e o apelo à castidade, logo no país que é visto por lá como o paraíso da licenciosidade sem culpa. Mas a ligação implícita feita entre as duas coisas – a Igreja católica perdendo terreno para as outras religiões porque insiste nas posições sociais retrógradas que o Papa enfatizou – parece errada. Os pentecostais podem ter posições mais liberais em algumas questões, mas em geral não são menos restritivos nem menos anti-hedonistas do que os católicos. A briga é entre discursos e estilos, entre uma religião tradicional com promessas tradicionais, com os séculos de ritualização dos seus mistérios e hierarquização dos seus santos complicando a catequese, e religiões afinadas com o etos imediatista e a comunicação fácil do mundo moderno. Entre o padre como mestre ou repreensor e o pastor como bom vendedor de milagres práticos. As igrejas pentecostais e neopentecostais crescem no Brasil na mesma proporção em que crescem a literatura de auto-ajuda e os apelos ao misticismo da moda, numa sociedade em que a tradição não orienta mais ninguém.

Quase ao mesmo tempo em que a TV mostrava as multidões que acompanhavam a visita do Papa no Brasil, um milhão de pessoas desfilava na Turquia contra a ameaça de se instalar um governo teocrático no país. Discute-se se a Turquia deve ser admitida na União Européia. Para quem se opõe (como o Sarkozy, por exemplo) a Turquia não é a Europa, e a perspectiva de ter um governo islâmico a torna ainda menos palatável. Lá estavam um milhão de turcos manifestando-se não apenas contra a possibilidade de um governo islâmico na sua terra, mas contra qualquer governo dominado por qualquer religião, numa demonstração de maturidade política de dar inveja a muito europeu. A multidão reunida em Aparecida era emocionante, como são todas as manifestações de fé e devoção populares. A multidão de Istambul me emocionou mais.

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Faz sucesso em Paris um neto do Charles Chaplin, James Thierrée. Fomos ver o seu último espetáculo, "Au revoir parapluie". Teatro total, mistura de mímica, dança, acrobacia e prestigitação visual. James tem o corpo do avô, e o talento veio junto. Sucesso em Paris também é o gaúcho, quase desconhecido aqui, Márcio Faraco, excelente compositor e guitarrista com vários discos gravados e um público certo na Europa. No show dele que vimos participava da banda o pianista Felipe Baden Powell, filho do legendário guitarrista. Outro grande talento herdado.

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