Isto não vale para o Lula, que já sobreviveu a tantas gafes e metáforas imprópias que por estes detalhes ninguém mais o pega, mas serve para ministros e ministras, e qualquer outra pessoa pública que fala antes de pensar.

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O diretor de cinema Billy Wilder contava que entrevistou Sigmund Freud quando era um jovem repórter em Viena. Ou quase entrevistou Sigmund Freud. O ano era 1925 ou 26 e Wilder queria saber a opinião de Freud sobre Mussolini e o novo movimento político na Itália. Conseguiu entrar no apartamento onde Freud também mantinha seu consultório e teve tempo para espiar o famoso divã, coberto com tapetes turcos, e a coleção de arte africana e pré-colombiana do doutor, antes deste aparecer com um guardanapo em volta do pescoço – tinham interrompido seu almoço – e, ao saber que Wilder era jornalista, expulsá-lo do local.

Wilder ficou impressionado com o pouco comprimento do divã e concluiu que todas as teorias de Freud eram baseadas na análise de gente pequena. Ficou sem saber o que Freud pensava de Mussolini mas, se quisesse, poderia ter desenvolvido sua tese do divã curto e feito uma boa matéria – sobre o perigo de deduções baseadas na observação rápida de detalhes insignificantes ou sobre a significância insuspeitada de detalhes bem observados, pois quem nos assegura que a teoria freudiana não se sustentou, pelo menos na sua forma original, porque só se aplicava a baixinhos?

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Os detalhes, mesmo que não signifiquem nada, podem perseguir alguém por toda a vida e determinar seu lugar na História. Uma certa fotografia de Einstein foi tão reproduzida que o cientista acabou identificável, popularmente, mais pela lingua de fora do que pela teoria da relatividade. Detalhes podem levar a deduções erradas ou a grandes sacadas – ou apenas boas piadas – mas a posteridade de figuras notórias pode depender de uma única observação desastrada, ou piada infeliz, que não pôde ser explicada na hora. A posteridade pode muito bem descartar todas as circunstâncias atenuantes e só registrar o detalhe comprometedor. E vá tentar consertar a sua própria posteridade.