Recebo outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, nunca revela a idade, mas nega ser tão velha que quando passa o cometa Halley ela nem olha mais. Diz que pegou, sim, o Getúlio Vargas no colo mas que ele já era presidente na ocasião. Conta o tempo em operações plásticas e sempre que lhe pedem para lembrar algum episódio de sua vida que não consegue situar, pergunta "Como era o meu nariz?" Dorinha esteve na vanguarda de todos os movimentos políticos do seu tempo e junto com seu grupo de pressão "Socialaites Socialistas" (Tatiana "Tati" Bitati, Lurdes "Lu" Xossó e outras), que luta pela implantação no Brasil do socialismo no seu estágio mais avançado, que é a volta ao feudalismo, lançou um movimento pela ética chamado "Aborreci", financiado em parte com o que seu atual marido, um empresário cujo nome lhe escapa no momento, sonega do Fisco. Dorinha nega que o movimento seja elitista e conta que até instruiu seu pequinês, Ostramond de Crecy ("o nome é maior do que ele") a não latir mais para a classe C, como fazia, mas rosnar pode. O "Aborreci" tem se reunido regularmente, conta Dorinha. Não marcha na rua para não repetir o erro do "Cansei", que cansou. São reuniões de amigas antigas, mas ultimamente todas têm sido obrigadas a usar crachá, pois com o advento do botox não se reconhece mais ninguém pela fisionomia. Mas desta vez não é a política que, como ela diz, "me bouleverse de la perruque aux pieds" . Dorinha está indignada com... Mas deixemos que ela mesmo nos conte na sua carta, como sempre escrita com tinta lilaz em papel azul turquesa, timbrado com seu nome e um espaço em branco para seu sobrenome da vez.

CARREGANDO :)

"Caríssimo! Beijos escandalosos, come il fô. Estou revoltadíssima com os inexplicáveis critérios da "Playboy" para publicar fotos de mulheres nuas – e não as minhas. Uma auxiliar – auxiliar! – de arbitragem hoje, uma amante do Renan Calheiros amanhã... Se curiosidade e notoriedade são os critérios, por que não eu, que além de ter sido amante de políticos nacionais de diversas correntes, sem falar em chicotes e ligas pretas, ideológicas, tenho experiência como modelo nu? Sim, posei para o Picasso em Paris. Se ele decidiu botar um olho no umbigo e outro não se sabe onde, problema dele. Era eu. E coisas como idade e forma física, além de serem quesitos em que eu concorreria com qualquer bandeirinha depois de uma semana no Pitanguy, tornaram-se irrelevantes com a existência do foto-shop. Hoje, retocadas pelo computador, qualquer mulher de qualquer idade ou volume pode sair nua na "Playboy" – e quem não sair tem direito a reclamar de discriminação. Estou pensando em processá-los. Da tua magoada Dorinha."