É impossível pensar, ou estar, na Alemanha sem evocar política e história o tempo todo. A Copa de 1974 foi num país dividido, em que a vitória da Alemanha Ocidental, em termos promocionais, significou muito mais do que um triunfo esportivo. Esta é num país em processo de unificação, que politicamente já aconteceu há tempo, mas psicológica e economicamente ainda é um desafio.
Uma vitória nesta Copa seria a segunda grande conquista internacional da Alemanha toda depois da Copa da Itália, um reforço para sua auto-imagem com óbvio proveito político para o governo. Além de problemas de identidade, o país tem de lidar com o seu peso dentro da comunidade européia você não precisa fazer mais do que andar pelo setor bancário de Frankfurt, por exemplo, para ter uma idéia do poder financeiro desproporcional que a Alemanha, literalmente, ostenta, cercada pelo ressentimento e o medo dos outros. Dizem que a União Européia tem dois bancos centrais, o oficial, de mentira, e o Bundesbank, de verdade. A Alemanha precisa urgentemente se amar e ser amada.
E há também a presença constante do passado, às vezes inconscientemente, em toda avaliação que se faz da Alemanha, mesmo as mais rápidas. Problemas com imigrantes e minorias têm provocado surtos de xenofobia e violência racial, e se o neonazismo assusta em qualquer parte do mundo, na Alemanha, obviamente, o susto é maior. Tem-se com a Alemanha a mesma preocupação que desperta aquele amigo com uma história de alcoolismo que está tentando se curar: qualquer sugestão de recaída causa pânico. A Alemanha também precisa de amigos que acreditem na sua reabilitação completa.
Se depender do tratamento que temos recebido, o slogan da Copa se cumprirá. Todos são simpáticos e se esforçam para vencer o maior obstáculo para o entendimento entre os povos, a língua, a velha danação de Babel. Dizem que Deus criou o alemão por último, com todos os sons que tinham sobrado das outras línguas. Não sei. O fato é que nos entendemos, com gestos, com o inglês e com a linguagem internacional da boa vontade. Estamos entre amigos.