Há uma maneira de você escapar do noticiário catastrófico do dia. Não por alienação ou insensibilidade, mas para manter a sanidade. Faça o seguinte: procure, no jornal ou na internet, a notícia mais inconseqüente, ridícula, ou bizarra que puder encontrar e concentre-se nela. Tem que ser algo que desminta a gravidade geral do momento e mostre que, por pior que esteja a situação, ainda poderemos ser salvos pela bobagem.
Há dias li, já não me lembro onde, que um carregamento de seios postiços a caminho da Austrália tinha desaparecido. Não posso descrever minha alegria ao ler a notícia. Abandonei, imediatamente, toda preocupação com desastres naturais e econômicos e me entreguei a especulações sobre o fato insólito, ou, no caso, fofo. A notícia não trazia muitos detalhes. Aparentemente, tinham perdido contato com um navio carregado com 120 mil seios postiços ou 60 mil pares, não sei. A localização do navio quando desaparecera não era revelada. Se fosse no Oceano Índico especulei alegremente a explicação podia ser um ataque de piratas da Somália, que teriam ocupado o navio, aberto os seus porões, mergulhado de ponta-cabeça na carga, gritando "Alá seja louvado!" e no momento discutiam o valor do seio postiço no mercado para cobrar o resgate.
O navio poderia ter naufragado, o que imediatamente sugeria a imagem de 120 mil seios boiando no oceano. Piloto de avião de busca para base: "Acho que localizei destroços do naufrágio, boiando sugestivamente na superfície. Câmbio". Náufrago abandonado na proverbial ilha deserta vê seios e mais seios chegarem na praia, olha para o céu, abre os braços e grita "Que parte do meu pedido você não entendeu, Senhor?!"
Mas o maior mistério de todos era: o que 120 mil seios postiços iam fazer na Austrália? Neste ponto deixei de me divertir com a notícia. Tive uma visão pungente de 60 mil travestis australianos esperando, inutilmente, no porto.
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Ainda não se sabe se há água, e portanto vida, em Marte. Uma das luas de Saturno parece ter um ambiente propício para a vida orgânica, mas também não é certo. Talvez estejamos mesmo sós neste canto do Universo. É pouco provável que não exista vida em algum lugar das trilhões de galáxias além da nossa, mas estas não nos interessam. Esperamos, isto sim, que haja organismos que cresçam, se desenvolvam, formem civilizações e comecem a jogar futebol em planetas teoricamente acessíveis, para que se possa pensar num campeonato do sistema solar. Senão o Internacional não vai ter mais nada para ganhar.