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Paulo Fernando Melchert

Pedalar, eis a questão

Elas não poluem nem consomem energia elétrica, ocupam pouco espaço e podem ser uma alternativa aos congestionamentos rotineiros da maioria das cidades. A descrição ecologicamente correta, um tanto óbvia, merece ser lembrada quando se pensa em um maior aproveitamento do uso das bicicletas no cotidiano.

É fato que elas ainda respondem por apenas 7,4% dos deslocamentos no país, segundo a Associação Nacional do Transporte Público (ANTP). Por outro lado, o Brasil tem a sexta maior frota do mundo, com cerca de 75 milhões, e o espaço destinado às "magrelas" quadruplicou desde 2003 – de 600 quilômetros para 2.500 quilômetros de ciclovias (espaços exclusivos para ciclistas).

Estimativas apontam que em uma via pública por onde circulam 450 carros por hora cabem 4.500 pessoas pedalando. Levantamento do Ibope, em São Paulo, mostra que 36% dos entrevistados aceitariam trocar o automóvel pela bike em seus deslocamentos diários, desde que houvesse incentivos para a substituição, como a construção de ciclovias e de bicicletários (estacionamentos específicos) nos locais de trabalho.

Na Grande São Paulo, que reúne 39 municípios e em que um terço das famílias tem pelo menos uma bicicleta, a utilização dobrou nos últimos dez anos. De acordo com a pesquisa, eram feitas 160 mil viagens diárias em 1997. Esse número saltou, em 2007, para 345 mil. Atualmente, 71% dos ciclistas usam suas "magrelas" para se dirigir ao trabalho, 12%, para a escola, e 4%, para o lazer.

Se compararmos o cenário brasileiro, inclusive o de Curitiba, com outros países, veremos que ainda estamos distantes de um melhor aproveitamento das bikes. Como exemplo, cita-se a Holanda que, apesar de ocupar uma área equivalente ao estado de Pernambuco, tem 34 mil quilômetros de ciclovias. Mas o simples fato de o assunto passar a fazer parte das discussões diárias, inclusive nos programas de governo dos partidos políticos, representa uma importante vitória.

A popularização do uso das "magrelas" passa por uma concepção maior, que é a ocupação planejada da cidade, com a criação de ciclovias, ciclofaixas (faixas para a circulação em vias de tráfego viário) e de bicicletários, o que terá impacto direto na diminuição dos congestionamentos e na agilidade da locomoção das pessoas. É preciso também abandonar a concepção de se ver as bicicletas como meros brinquedos. Dessa forma, será possível transformar as cidades em verdadeiros espaços públicos voltados ao uso coletivo.

Paulo Fernando Melchert é administrador de empresas.pfernando@levorin.com.br

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