O passado é prólogo. No momento em que o juiz apitar o começo do jogo Alemanha x Costa Rica e a bola fizer um giro completo sobre a sua circunferência, hoje, tudo o que houve até aqui passa a ser preâmbulo. As Copas até agora, a preparação para esta, tudo vira história. Passa a valer só a realidade concentrada nos noventa minutos, mais os descontos, de cada jogo, até o apito final do jogo final. Quando esta Copa também poderá ser estudada num contexto histórico e se transformará em matéria de memória. Prólogo para a de 2010.
Raul Milliet, o responsável pelo livro Vida que segue, com textos do e sobre João Saldanha, teve a feliz idéia de escolher as crônicas do João que falavam das Copas de 1966 e 1970. Uma foi prólogo da outra. Estou degustando aos poucos o livro, que o Rodolfo Fernandes teve a gentileza de me trazer do Brasil. É excelente. O desastre de 66 foi a condição para a vitória de 70, o seu preâmbulo direto. O livro é sobre isso, além de ser o retrato de uma personalidade fascinante. Em 66 o Brasil, empolgado com as vitórias de 58 na Suécia e 62 no Chile, convocou seis seleções completas para a Copa da Inglaterra. Ou meus neurônios me enganam? Não, foi isso mesmo. Mais de 60 jogadores foram chamados para uma triagem inicial que incluía jogos entre os diversos times em diferentes locais do país, dentro do projeto de explorar politicamente o futebol, do regime militar. Esta loucura não foi a única responsável pela derrota na Inglaterra, mas dá uma idéia de como se organizava o futebol na época. Quando convidaram o João Saldanha para ser o técnico da seleção de 70, a primeira coisa que ele fez, na primeira entrevista que deu como técnico, foi escalar o time titular. Que acabou não sendo o time que venceu no México, mas só o seu anúncio já mostrava que a mentalidade era outra.
Este passado teve um epílogo triste. Me lembro da preocupação dos amigos dele, em Roma, em 90. Não era para o João ter ido àquela Copa, no estado em que estava. Morreu lá. Mas também não poderia ter ficado em casa. Era a primeira Copa depois da derrota em 86. Nos quatro anos entre 86 e 90 ele disse como a seleção deveria jogar na Itália. Estava lá para checar se, mais uma vez, tinham lhe ouvido.