As famílias hoje esperam que as instituições de ensino insiram seus filhos nas práticas sociais e transmitam valores que até poucos anos atrás eram de atribuição delas. Conjuntura histórica, conhecimento das tradições, usos e costumes, noções básicas de etiqueta e cidadania passaram a constituir o repertório dos currículos escolares, assim como os livros e a cultura geral.
A reflexão sobre esses conteúdos, porém, em qualquer nível que seja, sempre nos suscita um questionamento: afinal, o que é necessário que uma escola ensine?
Das ciências físicas e biológicas, passando pelas artes, ética, filosofia, idiomas e condicionamento físico, uma escola pode colocar em sua grade curricular muitos e variados assuntos. Pode ensinar a produzir violoncelos, a tocar oboés, a arte de fazer cestos. Mas a grande questão talvez seja a crença que realmente temos na educação.
Vivemos tempos de pensamento prêt a porter: pronto para usar, no jargão dos estilistas. As idéias são apresentadas acabadas, geralmente sintetizadas em frases de construção simples e consumo fácil. E são repetidas infinitamente, até se tornarem o que é chamado de conhecimento. Exemplo disso são os manuais de auto-ajuda, que cobrem do campo pessoal ao empresarial e político, nada mais fazendo do que repetir o que o senso comum já cristalizou ao longo do tempo, mas com uma roupagem pretensamente nova.
Mas a verdade, porém, é que o conhecimento não é nada disso, assim como não se trata, também, da repetição vaga de conceitos que não foram suficientemente compreendidos e contextualizados. À escola e demais instituições de ensino, cabe a tarefa de proporcionar as condições para a compreensão das idéias e o desenvolvimento da prática de pensar, pois estamos num mundo em constante transformação, do qual somos todos protagonistas.
A presença maciça dos computadores em nossas casas, no trabalho, no lazer, além do acesso a quantidades cada vez maiores de informação, têm colaborado para a conscientização da necessidade de se ensinar, principalmente transmitindo conhecimentos da forma mais abrangente possível.
Assim como cresce esta consciência, cresce também a pressão sobre as escolas, mas é indispensável lembrar que, embora essa pressão seja de certa forma natural e necessária, devido ao aumento sensível do número de jovens na população, a educação não se efetua unicamente dentro das instituições de ensino.
A primazia é do contexto familiar, para depois vir a escola e seu entorno e, finalmente, o campo social. Esta última etapa, a mais longa e produtiva, abrangendo desde o exercício profissional até o mais amplo aspecto cultural desenvolvido na vida adulta, pois o aprendizado é um processo de média e longa duração.
A formação de crianças, adolescentes e jovens exige o amadurecimento tanto das estruturas cognitivas e afetivas quanto da percepção do contexto social e cultural. Não existem tecnologia ou metodologia modernas capazes de alterar essa realidade, mesmo que ambas possam influir sensivelmente na melhoria do processo.
No entanto, é preciso ressaltar que, embora um bom docente consiga demonstrar o prazer da literatura, ele terá uma maior facilidade em realizar essa tarefa se os alunos tiverem ouvido histórias infantis ou terem observado seus familiares lendo por diversão quando crianças.
São fatos como esse que demonstram por A mais B a importância da família no processo educacional, porque a responsabilidade é de todos nós.
Wanda Camargo é vice-diretora e presidente da Comissão Central do Processo Seletivo da UniBrasil (Faculdades Integradas do Brasil)