Como é chato ser só um espectador na festa dos outros. Eu tinha razões práticas para torcer para que a Argentina eliminasse a Alemanha. Tinha razões sentimentais para querer que Portugal chegasse às finais. Mas, entre França e Itália, meu coração não balança. Meu coração já foi pra casa.
Futebol por futebol, os dois merecem. Ou nenhum dos dois merece. Haveria uma razão, digamos, literária para querer ver o Zidane terminar sua carreira campeão do mundo. Para completar a legenda. Mas simpatia por simpatia, a briguenta Itália tem mais do que a fria França.
Razões históricas nos levariam a torcer pela França, que só tem uma Copa do Mundo. A Itália tem três. Com mais uma se aproximaria do penta do Brasil. Para quem ainda tem ânimo para torcer pelo Brasil não resta a menor dúvida: a França é o Brasil neste jogo.
Razões mais históricas ainda? Nesta final ultra-européia enfrentam-se os dois países responsáveis pelas maiores conquistas da civilização da Europa. A Itália da Renascença, a França do Iluminismo. A Itália de da Vinci, Michelangelo e etc., a França de Diderot, Voltaire e etc. Razões para torcer por um empate e deixar a decisão para os pênaltis, que não tem nada a ver com futebol e ainda menos com a razão.
Razões dos bons sentimentos e da moral. A discutida seleção multirracial francesa representa uma vitória sobre o racismo e a xenofobia, a da Itália representa um futebol carcomido pela corrupção. Vantagem para a França nos dois quesitos.
No fim, acho que vou torcer por jogadores, não pelos seus times. Foi uma Copa sem estrelas. Esperemos que no último jogo seja consagrado o herói que está faltando. Tanto pode ser o Zidane quanto o Cannavaro. Será uma forma de neutralidade. Mas como é chato ser neutro.