Os que acompanhavam a seleção desde a Suíça chegaram contando que Parreira estava tenso, mal-humorado e pouco falante. Se isso é verdade, o clima com que Königstein recebeu a seleção lhe fez bem.
Na entrevista de ontem ele estava à vontade, paciente e loquaz. Seria a mágica da primavera, mesmo um simulacro de primavera como esta. Ou seria o comportamento natural do treinador de uma seleção tão sem problemas que uma bolha no pé é a sua maior preocupação. Mas a ansiedade incongruente do Parreira também se explicava. Perguntei ao Tostão, que esteve na Suíça, se as perspectivas da seleção eram boas. São boas demais, respondeu o Tostão. Perfeito. O problema é a falta de problemas. A ausência de preocupação é que preocupa. Você também não estaria tranqüilo com tanta tranqüilidade. Precisa-se de uma crise, com urgência, na seleção, qualquer coisa maior do que uma bolha, para as coisas voltarem ao normal. Pela primeira vez, provavelmente, numa Copa do Mundo o Brasil vai jogar com um time unanimemente aprovado, outra tranqüilidade inquietante. Na entrevista de ontem, Parreira disse que tem dormido bem. Só o fato de estar dormindo bem já deveria tirar o sono do Parreira.
Culpa minha, que resisti à língua quando podia tê-la aprendido e não me preparei nem para chegar aqui e distinguir mais do que eingang de ausgang. Na Alemanha estou tendo uma demonstração prática do terror de ser analfabeto. Só abrir jornal para ver as figuras é um martírio. No saguão do nosso hotel o único jornal não-alemão encontrável é o Financial Times. Estou me tornando uma autoridade em finanças internacionais por falta de opções. Como sou um guttembergiano irremediável, a internet não me salva. Não consigo encarar texto em tela de computador como se fosse texto impresso. Jornal tem que sujar os dedos. Estamos perto de um como se diz em língua de cristão "shopping center" onde há dez cinemas. Todos os filmes são dublados em alemão. Na verdade tudo aqui está muito bom, os morangos são doces, a companhia é ótima, a Copa promete ser sensacional, o Brasil está tranqüilo, mas eu sinto uma falta danada de legendas.
Depois do treino de ontem, Ronaldinho e Rogério Ceni ficaram vendo quem acertava o travessão de fora da área mais vezes. Quase não erraram. Tudo está bom demais!
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