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Deve haver uma longa palavra em alemão que signifique "farto de salsicha". "Wurstfatiguen" qualquer coisa. Ou, pensando bem, não, pois os alemães parecem nunca se cansar de comer a salsicha em suas várias formas e comprimentos. Já o estrangeiro que chega disposto a se deliciar com esta especialidade da terra, se delicia – mas no máximo por três semanas. Estamos na nossa quinta semana aqui, o bastante para desenvolver uma poderosa "wurstphobia". Culpa não dos alemães ou das suas salsichas, mas da nossa falta de hábito e da nossa rotina de trabalho, que seguidamente nos obrigava a recorrer à comida mais próxima e mais rápida – quase sempre "wurst mit kartoffelsalat". Eu, pessoalmente, devo ter comido um quilômetro de salsicha desde que cheguei aqui. Não posso conceber uma vida inteira fazendo isso.

E no entanto a "wurstmania" alemã tem até suas regras e rituais. A "weisswurst", ou salsicha branca de Munique, por exemplo, só deve ser comida entre as onze horas e o meio-dia, acompanhada de uma "weissbier", cerveja feita de trigo, num copo da altura de certos jogadores mexicanos. O hábito não parece afetar a produtividade da população, a se julgar pelo progresso da região. Já minhas experiências com a interminável salsicha e a volumosa cerveja resultaram em sestas extemporâneas seguidas de uma burrice densa como a cerveja de trigo. Deu para notar pelo texto?

Na verdade, tive algumas frustrações gastronômicas equivalentes à frustração com os três times pelos quais torci nesta Copa, Brasil, Argentina e Portugal. Vim doido para comer "forelle blau", a truta inteira preparada no bafo que é uma das delicadezas da cozinha alemã. Não sei por quê, as trutas dos rios alemães são melhores do que as outras, ou então a maneira de preparar é superior. Mas como outros alemães aristocráticos, as "forelles" devem ter decidido abandonar o país na Copa. Só comi truta duas vezes, no único restaurante em que tinha no cardápio. E ainda tem quem inveje jornalista que cobre a Copa!

Independentemente do excesso de salsicha e da falta de truta, todos foram amáveis. Nem a língua atrapalhou. A pergunta "Speak English?" era quase sempre respondida com "A little bit" e este pouquinho, com boa vontade, servia para o entendimento e fraternidade. O que compensou tudo. Menos a derrota do Brasil, claro.

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