Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Violência

Com 197 mortes, RMC tem o mês mais violento em dois anos

A Penitenciária Central do Estado ficou 18 horas sob o comando dos presos rebelados: execuções brutais | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
A Penitenciária Central do Estado ficou 18 horas sob o comando dos presos rebelados: execuções brutais (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)
Em Campo Magro, população está assustada com mortes em série |

1 de 2

Em Campo Magro, população está assustada com mortes em série

A chacina da última sexta-feira estaria relacionada ao tráfico de drogas e à vingança |

2 de 2

A chacina da última sexta-feira estaria relacionada ao tráfico de drogas e à vingança

Janeiro foi o mês com o maior número de casos de assassinatos na grande Curitiba, pelo menos nos últimos dois anos, período em que a Gazeta do Povo realiza o acompanhamento dos homicídios ocorridos na capital e região (RMC). Até a noite de ontem, 197 crimes cometidos por arma de fogo, arma branca e por agressão haviam sido registrados pelo Instituto Médico-Legal de Curitiba. A média diária foi de 6,3 casos – bem acima da média dos anos de 2009, que foi 4,6, e 2008, 4 óbitos.

A chacina do bairro Barreirinha na última sexta-feira, a rebelião na Penitenciária Central do Estado (PCE) e a série de assassinatos em Campo Magro contribuíram para o quadro de violência. Em cada situação seis mortes foram registradas, totalizando 18 homicídios. Mas, mesmo que essas três situações não tivessem sido registradas, esse mês de janeiro continuaria sendo o mais violento do período analisado.

Desde 2008, quando a Gazeta do Povo, baseada em relatórios do Instituto Médico-Legal, passou a contabilizar os crimes fatais cometidos na capital e na RMC, os dois picos de homicídios haviam sido registrados nos meses de janeiro e novembro de 2009, com 170 óbitos. O aumento, portanto, foi de 15%.

Perfil

O número de crimes que tiveram mulheres e jovens com vítimas chamou atenção em janeiro. Os adolescentes e jovens com idade entre 12 e 25 anos foram vítimas em 70 situações, ou seja, 35% do total. A média do ano passado foi de 11 mortes mensais nesta faixa etária. Neste mês, duas crianças, de cinco e 11 anos, também foram mortas.

Além disso, 18 mulheres foram mortas no período, em Curitiba e região metropolitana, quantidade acima da média do ano passado, que foi de 11 mortes por mês. Esse total iguala-se somente ao mês de no-vembro do ano passado. Na grande maioria das vezes, os crimes foram cometidos com arma de fogo e a causa mais comum foi envolvimento com drogas.

O bairro com maior concentração de mortes continua sendo a Cidade Industrial de Curitiba (CIC). O maior bairro da capital registrou 13 mortes no período. No último ano, ocorreram em média oito crimes fatais por mês na região.

Ainda chamou atenção neste janeiro o aumento dos crimes cometidos com arma de fogo (revólveres e outros) e agressão. Os assassinatos praticados com arma de fogo totalizaram 152 casos (em novembro de 2009, mês com maior incidência de uso deste tipo de instrumento, haviam sido 145 situações) e por agressão física, 26 (superior as 20 mortes de janeiro do ano passado).

Falhas

Na opinião do advogado criminalista Dálio Zippin, membro da Comissão Nacional de Direitos Hu­­manos da Ordem dos Advo­gados do Brasil (OAB), em Brasília, o quadro de violência é reflexo da falta de atuação da polícia nos locais em que realmente ela se faz necessária. Ele sabe que existe um sistema de geoprocessamento para orientar o policiamento na região, mas defende que a ferramenta não serve para ajudar na diminuição dos crimes, porque o policiamento não funciona nos locais mais vulneráveis. "Precisamos de um geoprocessamento honesto e transparente, de um policiamento inteligente e do incentivo a uma política de tolerância." A tolerância a que se refere o jurista aplica-se a casos como a violência no futebol, que deixou vítimas no ano passado.

De acordo com o sociólogo Lindomar Bonetti, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a violência em Curitiba está relacionada a fatores econômicos. "O desenvolvimento da economia faz com que mais pessoas busquem as grandes cidades. No entanto, não se consegue absorver todo mundo. Novas populações surgem e outras acabam excluídas", analisa. "São pessoas em condição de vulnerabilidade social, mais próximas de conflitos familiares e do envolvimento com as drogas, fatores ligados à violência urbana", completa o especialista.

Exposição

A incidência de um número tão elevado de casos de assassinato em janeiro, pelo segundo ano consecutivo, também seria causada pela maior exposição da população nesse período. Segundo Zippin, por ser verão, as pessoas permanecem mais tempo nas ruas e têm uma vida noturna mais intensa.

Na opinião de Bonetti, janeiro ainda preserva um ambiente de festa e de excessos, em que grande parte da população está de férias e se movimenta mais. Com isso, as pessoas ficam mais vulneráveis a situações que propiciam violência.

* * * * *

Casos mais rumorosos

Dezoito mortos. Esse foi o saldo de uma chacina, uma rebelião e de uma sequência de assassinatos ocorridos no mês de janeiro na Grande Curitiba

Chacina

- Crime: Na noite da sexta-feira passada, uma chacina no bairro Barreirinha resultou na morte de seis pessoas. Segundo a polícia, o crime foi motivado por um desentendimento entre traficantes da região.

- Depoimento: A reportagem da Gazeta do Povo conversou com um dos dois sobreviventes. Carlos *, 30 anos, alega que as mortes ocorreram por vingança. Dias antes ele diz ter socorrido um adolescente que tinha tentado roubar um celular do suspeito de ter ordenado a chacina. Irritado, ele ameaçou Carlos e prometeu matá-lo. Segundo o sobrevivente, o suspeito é um traficante poderoso da região. O adolescente, de 17 anos, foi executado no mesmo dia da briga.

- Frieza: Na madrugada de sexta-feira, quanto oito pessoas estavam na casa de Carlos, localizada em um beco no Jardim Arroio, dois homens chegaram e executaram as vítimas. "Estávamos escutando rádio e fumando crack." Valéria Neves da Luz, 20 anos e grávida de sete meses, foi uma das primeiras vítimas. Segundo Carlos, um dos homens perguntou se estava grávida de gêmeos. Com a resposta de que era um, friamente ele disse que então mataria dois e não três. Carlos e o amigo ficaram vivos porque fugiram. Cristiane Antunes Silva, 16 anos, era a única do grupo que não era usuária de drogas, conforme Carlos.

Rebelião

18 horas de medoA rebelião dos detentos na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, também ganhou destaque no mês. O motim começou na noite do dia 14 e durou cerca de 18 horas. Durante a revolta três agentes penitenciários foram feitos reféns e cerca de 90% das celas do local foram destruídas. Seis presos foram mortos (três deles carbonizados) e sete ficaram feridos.

RMC

Os cinco crimes fatais cometidos dentro da PCE (a outra vítima morreu no hospital de Curitiba) colaboraram para que Piraquara fosse a cidade com o maior número de mortes violentas na RMC neste mês: 20. No entanto, mesmo sem contabilizar estes óbitos, o município registrou três vezes mais crimes fatais do que a média de cinco mortes mensais, apurada em 2009.

Crime em Série

Cidade assustada

A cidade de Campo Magro, uma das menores da RMC, ainda está assustada com a série de assassinatos ocorridos desde o início do ano. Moradores do município acreditam que os seis crimes têm ligação.

Extermínio

Um grupo de extermínio estaria com uma lista de pessoas marcadas para morrer. Algumas residências da cidade, onde moraria parte das pessoas marcadas para morrer, foram pichadas com a marca do grupo. A Polícia Civil está investigando os casos.

* * * * *

Interatividade

Na sua opinião, o crescimento da violência em Curitiba e região está relacionado a falhas no sistema de segurança pública?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br ou deixe seu comentário no formulário abaixo

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.