Perigo
O que é obesidade mórbida
Um dos problemas destacados pela pesquisa é o desconhecimento sobre a obesidade e os seus graus. "Mais de 50% não sabiam o que era obesidade mórbida, diziam sou só gordinho, porque ainda tinha aquela visão de obesidade mórbida como o cidadão que os bombeiros precisam tirar de casa. As pessoas não sabem a gravidade do problema", explica o coordenador do estudo, Luiz Vicente Berti.
Na pesquisa, o conceito de obesidade mórbida adotado é aquele em que o excesso de peso causa efeitos negativos para a saúde, como diabetes, pressão alta, derrames, artrites, varizes, infertilidade, além de problemas de ordem social, as "doenças da alma". O índice de massa corpórea (IMC = peso [em quilos] ÷ altura² [em metros]) é um indicativo de obesidade não o único, uma vez que não mede os graus.
O IMC mede a superfície corporal, explica Luiz Vicente Berti. Teoricamente, até 25, aponta peso normal, entre 25 e 30, sobrepeso, entre 30 e 35, obesidade grau 1, entre 35 e 40, grau 2, e acima de 40, obesidade mórbida clássica. "Mas teoricamente, porque um oriental com IMC 35 é mais grave que um americano com IMC 40. Então, ele não é balizador de gravidade da obesidade. Ele aponta, para a fonte pagadora, quem pode ou não operar."
O brasileiro está cada vez mais pesado. Uma pesquisa nacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, patrocinada pela Covidien, aponta que o número de obesos mórbidos praticamente dobrou em sete anos no país, saindo de 3,5 milhões, em 2007, para 6,8 milhões, em 2014. No ano passado, o Brasil tinha quase 25 milhões de obesos, o que representa 18,5% da população. Embora a faixa de sobrepeso tenha apresentado queda de 51% para 40% nos últimos anos, os pesquisadores afirmam que esses indivíduos migraram para as faixas de obesidade, não de normalidade de peso.
INFOGRÁFICO: Veja os índices de obesidade no Brasil
Os índices são alarmantes, segundo o coordenador da pesquisa, Luiz Vicente Berti, uma vez que o excesso de peso é um fator de risco para problemas circulatórios, ortopédicos e sociais. "A obesidade é a doença de maior impacto socioeconômico no mundo. E a tendência é piorar, porque não estamos tratando o tema com a devida importância", ressalta Berti, que é presidente do conselho fiscal da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
Segundo Berti, cerca de 60 mil cirurgias bariátricas são feitas por ano no Brasil, mais de 70% delas são pagas por convênios. "Só em São Paulo, 70% das pessoas dependem do SUS. No Nordeste, 90%. O SUS faz 9 mil cirurgias por ano. Vamos ficar anos com essas pessoas na fila", contabiliza.
Além da fila de espera por cirurgias, o crescimento da obesidade traz um série de problemas como diabetes, pressão alta, que pode levar a enfartes, derrames e insuficiência renal, que aumenta a necessidade de diálise. "Sem falar nas próteses necessárias em casos de desgaste das articulações. Cada junção de um osso com outro, perna com pé, coxa com perna, vai sendo forçada com o excesso de peso e acaba se rompendo."
Novo público
A obesidade atinge cada vez as camadas menos favorecidas economicamente. O estudo aponta que o acesso ao mercado de consumo contribuiu para o ganho de peso de maneira significativa na classe C. Já nas classes A e B, os índices de obesidade caíram. "Não adianta dar um pouco de dinheiro, a informação é muito importante. Não há acesso a saúde, os alimentos não são tão saudáveis e os hábitos de vida estão mais sedentários", argumenta Berti.
Se de um lado o aumento do poder aquisitivo do brasileiro permite a aquisição de quase todo tipo de guloseimas nas gôndolas, de outro, hábitos de vida saudável ainda são pouco acessados pelas classes C, D e E. A pesquisa aponta que, enquanto 49% da classe A declara levar uma vida saudável, esse número cai progressivamente, chegando a 33% na classe E. Os índices de hábitos saudáveis são maiores entre indivíduos com peso normal e abaixo do peso (60%), no Sudoeste (50%) e entre homens (47%). Apenas 16% dos obesos mórbidos dizem praticar uma vida saudável. E 45% dizem que levam uma vida pouco saudável.
Sem cura, doença precisa ser prevenida
A diretora médica da Covidien, Carla Peron, conta que 1,2 mil brasileiros de todas as regiões foram entrevistados para a pesquisa.
Para ela, os dados mostram a necessidade de admitir que a obesidade é uma doença, não um estilo de vida escolhido pela pessoa. "A pessoa não é gordinha porque quer, porque come muito. É preciso de ajuda médica. Na contramão do que vemos hoje, é preciso dar mais acesso a um estilo de vida saudável."
O médico Luiz Vicente Berti reforça que todos carregam o gene da obesidade, ou seja, engordar é uma questão de tempo. "Existem os sortudos, que comem de tudo e são magros, porque esse gene não funciona. Mas vemos uma progressão assustadora do sobrepeso para a obesidade. Atualmente, 60%, 70% dos leitos de hospitais são ocupados por doenças que poderiam ser evitadas."
Para prevenir um colapso na saúde brasileira, Berti defende a necessidade de mudar os hábitos de vida, principalmente dentro de casa. Por exemplo: encher a geladeira de coisas não saudáveis e exigir que as crianças comam bem, não funciona. "A atividade física também é fundamental para queimar energia. Aos governos, cabe dar segurança para que eu leve meu filho ao parque, promover programas de boa alimentação e garantir informação."
Além de campanhas de esclarecimento sobre graus de obesidade e seus riscos, diz Berti, também é importante garantir acesso a atendimento médico de qualidade. "Mais de 14% dos entrevistados já sofreram preconceito médico e 25%, na família. A academia também é um ambiente hostil ao obeso. O foco precisa ser a prevenção, porque obesidade não tem cura, tem tratamento", afirma.
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