Foi por causa de um espirro acidental, durante um exame de raio-x, que a promotora de eventos Leli Lourenço Córdova, de 48 anos, descobriu que tinha um câncer raro e muito agressivo. Quando soube que tinha um adencarcinoma de pulmão, ele já havia espalhado para outros locais do corpo. O tratamento custa cerca de R$ 9 mil mensais e a promotora trava uma batalha judicial para conseguir receber o medicamento.
Sem trabalhar
O tumor que a promotora de eventos Leli Lourenço Córdova tinha na coluna foi tratado com as sessões de quimio e radioterapia. No entanto, parte dos ossos ficaram ressecados e frágeis, o que a impede de voltar à vida bastante ativa que tinha antes: cuidar da casa, cozinhar pra família, ir à academia, trabalhar, viajar a trabalho, resolver as contas da casa, entre muitas outras. O marido dela, Cristiano, tem saído mais cedo do emprego, para poder dar conta das tarefas que antes eram dela.
Desde fevereiro, a promotora de eventos tem conseguido comprar o medicamento graças à doação dos amigos, já que parou de trabalhar. Mesmo que tivesse condições de voltar ao batente, a renda familiar não somaria o valor de uma caixa do medicamento.
“As bandas com as quais eu trabalhava têm feito shows especialmente para arrecadar dinheiro para mim. Meus amigos também têm depositado o que podem na minha conta, R$ 30 de um, R$ 300 do outro. Mas uma hora as doações vão acabar. Afinal, estas pessoas também têm suas casas e suas famílias para sustentar”, diz a paciente, que já está há 15 dias sem a medicação e começa a sentir dores na coluna e na cabeça, tonturas e convulsões. Até rifas os amigos já fizeram. Numa delas, com um jogo de panelas , conseguiram R$ 3 mil.
A promotora está tentando conseguir o remédio pelo SUS, mas já perdeu quatro ações na Justiça. O problema seria um jogo de empurra entre os governos municipal, estadual e federal, que não assumem a responsabilidade de fornecer o medicamento.
Leli conta que foi fazer um raio-x, para averiguar uma dor na perna. Acidentalmente, deu um espirro bem na hora de “bater a chapa” e saiu da posição correta. Foi então que a máquina acabou captando o pulmão. “Aí a enfermeira já viu que tinha algo errado e foi aquela correria chamando meus familiares no hospital. Era dia 15 de junho de 2014. Só voltei pra casa no mês seguinte, 28 de julho”,conta Leli.
Mesmo sem ter apresentado nenhum sintoma, quando a promotora descobriu o câncer, a doença estava avançada e já não permitia mais cura, apenas controle. O adenocarcinoma de pulmão é tão raro que apenas cerca de 700 pessoas no mundo tem a doença.
Nos 44 dias de internamento, a promotora fez uma bateria de exames que detectaram que a doença já tinha se espalhado para outros órgãos, como a coluna e o cérebro. Antes das sessões de quimioterapia e radioterapia, que duraram até janeiro deste ano, ela fez uma cirurgia e retirou metade do pulmão.
Depois que encerrou essa fase do tratamento, seu médico prescreveu um remédio, chamado Tarceva, que é importado da Suíça e custa R$ 8.550. Como o câncer já não tem mais cura, o remédio faz apenas o controle da doença, impedindo que as células cancerosas se desenvolvam.
O advogado de Leli, Paulo César Bulotas, já entrou com ações contra o Município, o Estado e a União, exigindo o pagamento do tratamento, mas não há consenso sobre quem é o responsável pelo fornecimento da medicação. Segundo o advogado, há juízes que concedem tutela antecipada, ou seja, determinam que o medicamento seja fornecido, mesmo que o processo não esteja finalizado. “Neste caso, o juiz preferiu pedir uma perícia, para ver se o Tarceva é o medicamento correto. Só depois ele vai decidir se o SUS deve ou não fornecer, e de quem será a responsabilidade”, diz Bulotas. A perícia só deve ocorrer no mês que vem.
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