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meio Ambiente

Com desastre em Mariana (MG), Rio Doce morreu, sim, mas pode ser ressuscitado

A lama deve percorrer toda a extensão do rio até o fim de semana. | Fred Loureiro/ Secom ES/
A lama deve percorrer toda a extensão do rio até o fim de semana. (Foto: Fred Loureiro/ Secom ES/)

É esperada para até o fim desta semana a chegada à foz do Rio Doce, já no Espírito Santo, do tsunami de lama causado pelo rompimento das barragens do Fundão e de Santarém, em Minas Gerais. Para trás, ficou um rastro de destruição: com milhares de peixes mortos, cidades com o abastecimento de água suspenso e muitas incertezas. Por enquanto, o que os ambientalistas sabem é que, sim, o Rio Doce morreu. Mas, sim, ele pode ressuscitar. “Tivemos rios muito poluídos que foram recuperados. Dizer que morreu é muito forte e muito prematuro”, afirma o diretor geral do Instituto BioAtlântica, Ricardo Valory.

Para o rio voltar à vida, é essencial restabelecer a oxigenação da água. Mais do que a composição da lama – que ainda está sendo avaliada por técnicos –, o que causou a mortandade dos peixes foi o grande volume de sedimentos levados ao rio. Isso limitou a passagem de luz e, por consequência, praticamente zerou a oxigenação da água, o que inviabilizou a vida aquática.

Evitar que a lama que ficou depositada no local do acidente continue a ir para o rio é um dos pontos essenciais para restabelecer essa oxigenação. Sem cargas adicionais de lama, a tendência é que, em algumas semanas, a turbidez que causou a morte do Rio Doce vá se desfazendo.

“Contendo o sedimento lá em cima, você terá uma quantidade de água limpa diluindo essa lama. As chuvas também devem ajudar. No início, deverá haver um arraste da lama que está na calha, mas com as chuvas, você tem um aumento do volume de água limpa também”, explica Valory.

Algumas intervenções também podem colaborar para reduzir a turbidez da água. Em Governador Valadares (MG), uma das cidades mais prejudicadas pela lama no Rio Doce, a captação de água foi parcialmente retomada na segunda-feira (16). A companhia de abastecimento está usando um composto químico derivado da árvore acácia negra para acelerar o processo de decantação, fazendo o material trazido pela lama ir para o fundo dos tanques de tratamento.

Acelerar a decantação desse material em alguns pontos específicos do rio é uma das medidas definidas pelo Ibama, a Agência Nacional das Águas e a Samarco para reduzir os danos ao rio. Outra medida desse pacote é a construção de barreiras no local onde o rio encontra o mar, já no Espírito Santo. A intenção é proteger a área de mangue, muito sensível a qualquer alteração ambiental.

No estado também foi feita uma operação para resgatar peixes do rio antes que a lama chegasse. Os animais, alguns deles endêmicos ou raros, foram levados para tanques de cultivo. A ideia é repovoar o rio quando voltar a haver condição de vida no local.

Mas quando a pesca voltará a ser possível ainda é uma incógnita. “A pesca ainda vai demorar e vai ser necessário um trabalho de avaliação desses peixes, para saber se eles estarão aptos para o consumo”, diz o professor Alisson Borges, do Departamento de Engenharia Agrícola e Ambiental da Universidade Federal de Lavras (UFV).

Da mesma forma, ainda não se sabe qual o valor justo para cobrir todos os danos humanos e ambientais causados pelo rompimento da barragem. Na segunda-feira foi protocolada uma ação civil pública que requer da mineradora Samarco uma indenização no valor de R$ 10 bilhões pelos danos ambientais causados pelo rompimento da barragem do Fundão. A empresa já assinou um acordo com os ministérios públicos de Minas Gerais e Federal para a destinação de R$ 1 bilhão para o pagamento de indenizações e ações de redução de danos.

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