Clinipam diz que cirurgia seria muito agressiva
A Clinipam alega que a colocação da prótese seria um tratamento muito agressivo, que deveria ser encarado como última opção para Fernanda. "A Fernanda poderia ter uma vida de qualidade e sem dor com outros tratamentos até a colocação da prótese, que só deveria ser colocada quando ela fosse mais velha. Até porque a prótese tem tempo de vida que varia de cinco a 10 anos, no máximo", afirma Arnaldo Cassilha, gerente-médico da Clinipam.
A empresa diz que vai recorrer da multa porque "nunca se recusou a fazer a cirurgia". "Nós não nos recusamos a fazer a cirurgia, só não concordamos com a conduta adotada. Vamos fazer [o procedimento] se a Justiça assim determinar. Mas com a ressalva de que as complicações deste tratamento agressivo vão ser de responsabilidade da família e do juiz", afirma Cassilha.
Ele diz que o problema de Fernanda demanda a colocação da prótese em algum momento da vida, mas que a cirurgia pode ser protelada com outros métodos, como tratamento com corticoides. "O que acontece é que os resultados não vem de uma hora para outra. Mas imagine tirar o osso da mandíbula e parte da cabeça para colocar um elemento artificial e que tem vida útil. Isso deveria ser a última opção", disse o gerente-médico.
Há mais de um ano, a curitibana Fernanda Amaro, 26 anos, não consegue abrir a boca mais do que cinco milímetros. Ela sofre de um tipo de degeneração na mandíbula, chamado anquilose bilateral de ATM. Sente dores o tempo todo e só pode ingerir alimentos líquidos ou pastosos. Para resolver o problema, precisaria passar por uma cirurgia para receber uma prótese que, sozinha, custa cerca de R$ 300 mil. O plano de saúde contratado pela família, Clinipam, ainda não cobriu a despesa. A empresa foi multada em R$ 64 mil pela Agência Nacional de Saúde (ANS) nesta segunda-feira (7) por deixar de garantir a cobertura obrigatória.
A família de Fernanda trava uma batalha judicial para que a Clinipam arque com os custos da cirurgia. Fernando Amaro, pai de Fernanda, conta que a filha já havia passado por todos os tipos de tratamento que não surtiram efeito quando fez o pedido de cirurgia, em dezembro de 2012. Sem qualquer tipo de resposta, ele decidiu entrar com uma ação judicial em março do ano seguinte. A Clinipam afirma que vai recorrer da multa da ANS e diz que não se nega a fazer a cirurgia, mas acredita que não seria o tratamento mais indicado [leia no box].
Depois de uma série de recursos dos dois lados, a Justiça ordenou que um perito analisasse o caso de Fernanda. O parecer, segundo a família, foi de que ela deveria receber uma prótese importada feita sob medida. A Clinipam admite que a perícia sugeriu a prótese, mas diz que também deu a opção de outros tratamentos. Uma das medidas seria a colocação de uma prótese parcial, que não demandaria a retirada de todo o osso da mandíbula, e que poderia ser trocada pela prótese total no futuro.
A família rejeita outras medidas porque diz que Fernanda está "definhando" enquanto espera uma solução. "Enquanto isso a minha filha está aqui, sem poder comer e nem falar direito. Ela está deprimida, já emagreceu um monte. E tem a questão financeira ainda, porque estou sem trabalho agora e nós gastamos R$ 400 por mês em remédios para a Fernanda", diz o pai. O caso veio à tona com uma reportagem da RPC TV da semana passada.
A jovem foi afastada do trabalho e recebia pensão do INSS até setembro do INSS. O benefício foi cortado, de acordo com a família, porque o INSS entendeu que ela poderia voltar ao trabalho por causa da recusa na realização da cirurgia.
No Facebook, Fernanda conta suas frustrações com a situação. "Mais um dia se passou esperando as notícias que não chegam nunca... Tudo que eu queria era acordar amanhã e saber que vou conseguir as próteses, que a cirurgia será marcada, que vou receber meu auxílio-doença, que eu vou poder ter a minha vida e minha saúde novamente", escreveu, no fim de março.
Ela organizou, na rede social, um esquema de rifa solidária, em que vende cada bilhete por R$ 2 para ajudar a custear os gastos com remédios.
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