A Polícia Militar comunitária, modelo experimental adotado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) no câmpus Butantã da Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste, iniciou a segunda semana de atuação com um reforço no efetivo. De acordo com a SSP, 50 policiais se dividem no patrulhamento da Cidade Universitária ao longo do dia – eram 34 na semana passada. Alunos ouvidos pelo jornal O Estado de S.Paulo, no entanto, dizem que, mesmo com o aumento no número de policiais, a medida não vai mudar a criminalidade no campus.

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O modelo da polícia instalado na USP foi inspirado no Koban, sistema japonês que cria uma “proximidade” entre os policiais e a comunidade em que atuam. O início das atividades foi antecipado para a semana passada depois de o estudante de Letras Alexandre Simão Cardoso ter sido baleado em uma tentativa de assalto do câmpus, no dia 1 de setembro.

Foram designados para o posto policiais jovens, que escolheram trabalhar na USP e de perfil universitário. A ideia é que os PMs sejam reconhecidos pelos alunos do campus. O efetivo não pode atuar em manifestações ou impedir festas universitárias, por exemplo.

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Um policial de 23 anos ouvido pelo jornal O Estado de S.Paulo disse que optou trabalhar no local por causa do horário do ofício, que permite que ele estude à noite. Aluno do 1º ano de Direito em uma universidade em Osasco, o jovem reconhece que ainda há resistência de alguns estudantes.

“Sempre há algum tipo de crítica em relação aos policiais quando eles fazem algum protesto. Não especificamente comigo, mas com todos”, comentou. Um sargento que trabalha com o jovem concordou. “Alguns alunos querem segurança, mas não querem o trabalho da polícia. Mas se trata de uma minoria”, comentou. Ambos preferiram não se identificar.

Os PMs estão divididos em grupos: uma base móvel fica instalada durante todo o dia na frente do Centro de Informações da Prefeitura do Campus, próximo ao portão um. Eles se revezam em duplas no local. Outra base fixa fica próximo ao portão três, em uma região com ponto de ônibus e acesso à favela San Remo, área em que os índices de criminalidade são considerados elevados na universidade. Outros PMs circulam pela universidade em viaturas, motocicletas e em uma base móvel. A SSP prevê ainda a instalação de uma base fixa, ainda sem data de implementação.

A dúvida de alguns, no entanto, é em como estes policiais poderão fazer com que a criminalidade no campus diminua. “Não sei se vai mudar alguma coisa. A criminalidade da USP é reflexo da criminalidade na cidade. Se a polícia não resolve lá fora, como vai resolver aqui dentro?”, questionou a estudante de Física Sabrina Martins, de 20 anos.

A estudante de Farmácia Carla Pazini, de 21, acredita que o efetivo sequer dá conta de toda a extensão da USP. “(O campus) é grande, os PMs não conseguem acompanhar o perímetro todo. Não dá para cobrir todas as ruas”, disse. Mas admite insegurança na cidade universitária: a aluna já diz evitar andar no local à noite.

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“Tem que ver a polícia não vai restringir a liberdade dos alunos, ficar impedindo as festas”, comentou o estudante de Arquitetura Patrick Lima, de 18 anos. Para ele, há risco de se comprometer a autonomia dos frequentadores do campus. “Não sei se tinha necessidade. Poderiam reforçar a guarda universitária, investir mais neles”, disse o colega de curso Leonardo Felice, de 19.

Filmagens

Parte dos policiais que trabalham no local não se encaixam no novo perfil definido pela secretária. Ao menos quatro PMs abordados pela reportagem tinham mais de 30 anos e já atuavam no campus há pelo menos três meses.

Reclamação constante entre eles é que, por causa da resistência, alguns estudantes decidem provocá-los e gravar vídeos com o celular para tentar “flagrar” algum ato de truculência. “Há alguns meses dois alunos vieram aqui e ficaram me fazendo várias provocações. Um filmava e o outro ficava falando besteira. Eles acham que estamos nos tempos da ditadura, não sabem que hoje a polícia é outra”, comentou um PM de 31 anos que atua na base do portão 1. De acordo com o PM, um dos jovens foi detido em seguida por desacato, e liberado mais tarde.

Também se tornou comum, de acordo com os policiais, a utilização do celular para gravar cenas de abordagem. “Dizem que a gente é racista quando abordamos um jovem negro, alguém com uma roupa característica. Mas não tem nada a ver com raça ou classe social. Nós conhecemos muitos dos que praticam crimes aqui no campus porque são sempre os mesmos”, disse outro policial.

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