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 | Antônio More/Gazeta do Povo
| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Não bastasse a dificuldade de chegar a uma nova cidade e a uma nova escola, centenas de estudantes da rede municipal de Curitiba têm um desafio ainda maior: chegar a um novo país, com cultura e língua totalmente diferentes. No total, 755 estudantes estrangeiros, de 44 nacionalidades, estão espalhados por 203 escolas da capital - espaços que se tornaram pequenas representações das diversas facetas do mundo.

Marcos Alede, profissional que faz o acompanhamento dos estudantes estrangeiros e dos professores que trabalham com estes alunos, conta que o trabalho é realizado em três fases: a primeira, do acolhimento, busca inserir a criança no espaço escolar, ensinando as palavras necessárias para que o estudante se adapte ao novo espaço. O próximo passo é a adaptação com a língua e com as matérias ensinadas na sala de aula, e, finalmente, a avaliação do aluno em relação à aprendizagem na língua portuguesa.

Os alunos estrangeiros são inseridos na mesma sala de aula dos alunos brasileiros e utilizam o mesmo material escolar dos colegas. “Os estudantes que vem de outros países não são especiais, estão em um momento especial de suas vidas”, comenta Alede.

Os professores passam por capacitação, na qual buscam entender a cultura do país de onde o aluno vem para fazer que o processo de adaptação seja o mais tranquilo possível. Até agora, toda experiência destes seis anos serve para ajudar na adaptação dos novos alunos que chegam a este novo mundo. “Toda experiência nos ajuda a construir as técnicas para atender os novos estudantes que chegam em Curitiba”, ressalta o profissional.

Amizades superam dificuldades

A pequena Maria Lagonikakou, hoje com 9 anos, saiu da Grécia com os pais aos 6. Há um ano, estuda na Escola Municipal Professor Brandão e, além de extremamente comunicativa, fala português como se tivesse sido alfabetizada no Brasil mesmo.

Ao receber o elogio, ela sorri e diz que nem sempre foi assim. “Minha mãe já falava o português, mas eu, minha irmã e meu pai não. Foi muito difícil no começo. Eu não queria saber de aprender essa língua”, conta. Hoje, além de ir muito bem na escola, ajuda o colega recém chegado do Haiti, que estuda na mesma sala que ela. Wesnerson Oriental também tem 9 anos e chegou em Curitiba neste ano. O pai veio um ano antes e conseguiu trazer Wesnerson, a mãe e os irmãos no começo de 2016. Pela timidez, quem tem que contar como ele tem se saído na escola é a própria Maria. “Ah, eu ajudo quando ele precisa, sei como foi difícil no começo”, conta a estudante.

Sem nem tirar o sorriso do rosto, Wesnerson diz que o que mais gosta da escola é jogar futebol e que prefere o time da Argentina do que o Brasil e Lionel Messi a Neymar - mas garante que isso não o impediu de fazer bons amigos por aqui. “Fiz muitos amigos na aula de educação física”, conta o menino, que tão pequeno já fala três línguas - o crioulo, o francês e o português. A evolução na língua portuguesa tem ido bem e ele diz ajudar a mãe, que ainda não se adaptou totalmente à língua.

As irmãs Valeria e Natalia Agudelo, de 7 e 5 anos, vieram há um ano da Venezuela e explicam que a escola por lá era diferente, e que a saudade dos amigos que deixaram é grande. Os pais são engenheiros e, o que era para ser uma viagem temporária de três anos, pode ser definitiva por causa da situação que o país vive. A ideia de ficar por aqui não entristece as meninas. “Gosto muito daqui, os amigos são muito legais”, diz Valeria.

Ajuda dos colegas é fundamental

O pequeno Xiaobin Zhu tem 8 anos e há um veio da China para Curitiba. Tímido, não falava português e precisou da ajuda dos colegas para se soltar. Hoje, a timidez ainda é grande, mas ele diz já ajudar os amigos quando o assunto é matemática. De acordo com Angela Busmann, que também atua na capacitação dos professores e acolhimento das crianças, a relação com os colegas de classe é a maior arma da adaptação dos estudantes à cultura e à língua .. “Eles são curiosos, querem sempre saber de onde o amigo veio, vão mostrando os objetos e repetindo as palavras para ajudar a aprender. O que eles mais pedem é para ouvir como é o ‘Parabéns pra você’ na língua do colega. Todos ficam em silêncio para ouvir, é muito bonito ver esse intercâmbio, que se torna o maior facilitador do trabalho”, diz a professora.

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