Motoristas e cobradores de ônibus fecharam na terça-feira (12) os 29 terminais da capital paulista por duas horas e causaram transtornos aos usuários do transporte público. Eles pedem reajuste salarial e ainda prometem fazer novas paralisações, caso a nova licitação para o transporte municipal, que deve ser lançada ainda neste mês, reduza o número de veículos em circulação na capital - o que deve acontecer, de acordo com empresários do setor.
A paralisação durou das 10 horas ao meio-dia e, segundo a SPTrans, empresa da Prefeitura que administra as linhas, prejudicou 675 mil pessoas. O sindicato exige 15,5% de reajuste salarial e aumento do valor de outros benefícios. A proposta das empresas é de aumento de 7,21%. A próxima assembleia dos motoristas será amanhã. Os patrões consideraram a paralisação ilegal.
Desprevenidos, alguns usuários escolheram aguardar o fim do protesto, enquanto outros tentavam encontrar novas alternativas para se locomover. No caso do Terminal Pinheiros, a orientação da SPTrans foi que usassem a Estação Pinheiros, da Linha 4-Amarela do Metrô, ou a Linha 9-Esmeralda da CPTM. Ônibus foram usados para bloquear os acessos aos terminais.
Ainda no centro, cerca de 60 micro-ônibus que fazem linhas intermunicipais bloquearam a frente da Secretaria dos Transportes Metropolitanos, na Rua Boa Vista. Eles protestavam contra decisão judicial que os proíbe de circular por Caieiras, Cajamar, Francisco Morato, Franco da Rocha e Mairiporã.
O presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores do Transporte Rodoviário Urbano da capital, Valdevan Noventa, afirmou que a paralisação dos ônibus foi ação de “repúdio à proposta apresentada pelos patrões” e a adesão foi de 100% dos cerca de 40 mil motoristas e cobradores da cidade. Ele disse ainda que “os trabalhadores estão conscientizados” e, se a proposta não melhorar, “não há dúvida” de que farão novas manifestações na capital.
A ameaça de greve feita por Noventa se estendeu à Prefeitura, diante da possibilidade de demissões, por causa da nova licitação do transporte. “Vamos acompanhar de perto. Não aceitamos a diminuição da frota porque causa demissões. O número que se está falando é entre 2 mil a 3 mil ônibus a menos. É prejudicial aos trabalhadores e à população, que vive reclamando de lotação e demora”, disse.
A nova licitação vem sendo discutida desde 2013. Ela foi adiada com os protestos de junho daquele ano, pela redução das tarifas, que resultaram em um processo de auditoria de parte do sistema - a venda de créditos do bilhete único ficou de fora. A Prefeitura pretende conceder a operação das linhas por um período de 20 anos.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros (SPUrbanuss), Francisco Christovam, confirma a expectativa de redução da frota. “O que há hoje é uma tremenda sobreposição de linhas. Não há porque manter essa ineficiência”, disse, afirmando esperar que o novo modelo seja mais “racional”. “Mas menos ônibus não significa prejuízo para o usuário”, ressaltou, ao afirmar que a redução do número de ônibus não deve atingir empregos. “Hoje, temos dificuldade de preencher vagas.”
Entre os milhares de passageiros que foram pegos desprevenidos pelo protesto de motoristas estava a costureira boliviana Elizabeth Blanco, de 27 anos, que carregava nos braços o filho de 4 meses. O bebê tinha consulta médica ao meio-dia para definir a data de uma cirurgia. Por causa da paralisação, ela atrasou. “Só conheço um ônibus que me leva até lá, mas não está funcionando. O que vou fazer? Esperar.”
No Brasil há dois anos, Elizabeth trabalha para uma confecção de roupas. Esperava ir do Terminal Parque Dom Pedro II, no centro, até a zona leste. No dia anterior, não lera nenhuma notícia nem fora avisada do ato dos trabalhadores do transporte público. “Se eu soubesse, teria chegado bem cedinho no hospital. Às 6h30, já estaria lá esperando”, afirmou.
Já a camareira Diana Lopes, de 23 anos, saiu do serviço na manhã de ontem e chegou às 10 horas ao Terminal Pinheiros, na zona oeste, onde pegaria um ônibus para o Terminal Jardim Ângela, na zona sul. De lá, uma segunda condução a levaria para casa, no Parque Jardim Figueira, na mesma região. Ela disse que tinha ouvido “um boato” de que os coletivos iam parar, mas, como viu os ônibus circulando de manhã, não imaginou que a paralisação se concretizasse.
“Mesmo indo de metrô ou trem, vou ter de pegar um ônibus. Sorte a minha que meu marido trabalha perto. Ele vai sair do serviço para vir me buscar”, disse Diana. A camareira afirmou que entende a paralisação como uma forma justa de reivindicação de direitos dos trabalhadores, mas lamentou o prejuízo aos passageiros. “Não deviam parar tudo de uma vez.”
Com a filha de 1 mês no colo, a doméstica Ana Maria Gonçalves, de 45 anos, aguardou mais de uma hora pela normalização dos ônibus. “Nem sei por que estão parando, mas a uma hora dessas já era para eu estar em casa”, disse a moradora do Jardim Macedônia, no Capão Redondo, na zona sul da cidade.
O sindicato dos motoristas argumentou que faria a paralisação pela manhã porque é um dos horários de menor movimento ao longo do dia. A proposta era evitar a greve nos horários de pico, o que comprometeria mais o trânsito da cidade.