A Rede Integrada de Transporte (RIT) de Curitiba e região metropolitana não acabou, como temiam usuários e especialistas. No entanto, ela não será mais a mesma, principalmente após as mudanças feitas pelo governo do Paraná na forma de pagamento e nos itinerários de algumas linhas. Essas alterações, segundo o estado, irão racionalizar a rede. Mas elas só foram postas em prática após o fim do convênio que garantia a integração financeira e permitia a gestão da Urbs para além da capital.
Na prática, até o momento, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) encurtou linhas – como as dos ligeirinhos que ligam Curitiba a Campo Largo, Araucária, Colombo e São José dos Pinhais (veja a lista completa no infográfico). Segundo o governo estadual, essas linhas tinham trechos sobrepostos. Agora, esses ligeirinhos param em terminais de Curitiba mais próximos dos seus municípios de origem. De lá, o passageiro embarca em outras linhas urbanas para vir, por exemplo, para o centro da capital.
As mudanças chegaram a gerar protestos dos usuários, mas são defendidas, inclusive, por quem ajudou a criar a RIT. Antes de se juntar ao quadro de técnicos da Comec, Euclides Rovani trabalhou na prefeitura entre 1974 e 2003 – período em que atuou no Ippuc e na Urbs ajudando o então prefeito Jaime Lerner a planejar e operacionalizar a rede integrada.
“Se eu ainda estivesse lá [na prefeitura], faria a mais coisa. O custo atual do transporte metropolitano é de R$ 4,20. E não podemos cobrar isso. A linha São José/Curitiba, por exemplo, é caríssima porque os ônibus trafegam em vias laterais e paralelas. E a velocidade das linhas fora das canaletas vai diminuir cada vez mais”, defende Rovani.
Na Comec desde janeiro, Rovani usa os ligeirinhos para defender sua tese. “O primeiro ligeirinho, Boqueirão/Centro Cívico, começou a circular em abril de 1991. Naquela época, ele trafegava com uma velocidade média de 32 km/h. Hoje, essa média é de 15 km/h”, exemplifica.
No terminal do Cabral, tem um biarticulado com intervalo de três minutos que circula em vias segregadas. Para que criar o ligeirinho Cabral/CIC, disputando espaço [com os carros] nas vias laterais?
Créditos
As mudanças, no entanto, não se limitaram às linhas. Passageiros que embarcam nos municípios vizinhos e que compraram seus créditos após 6 de fevereiro não poderão mais pagar com o cartão da Urbs (veja infográfico) a partir de agosto. Os novos validadores das linhas metropolitanas integradas serão implantados pela Metrocard, empresa do grupo que já opera o setor. Com isso, 100% do valor arrecadado no sistema irá diretamente para as viações. Nas linhas urbanas de Curitiba, 55% da arrecadação passam antes por um fundo público administrado pela Urbs. Os 45% arrecadados em dinheiro entram diretamente nas contas das viações.
A integração de alimentadores de Araucária com o sistema metropolitano integrado também mudou. Antes, o passageiro pagava uma tarifa no ônibus urbano e embarcava em um da RIT sem pagar novamente. Agora, paga-se duas tarifas para fazer essa integração. Segundo a Comec, a medida foi adotada porque o valor das tarifas Araucária-Curitiba era arrecadado exclusivamente pela empresa municipal. Campo Largo e a maioria das linhas de São José dos Pinhais também têm sistemas semelhantes.
SEM ACORDO
A desintegração financeira da RIT ocorreu porque estado e prefeitura não chegaram a um acordo sobre o subsídio que cobre a diferença entre custo operacional e tarifa do passageiro. O município pediu R$ 7 milhões mensais. Mas o governo afirma que manterá o sistema com R$ 3 milhões em subsídio, e que essa quantia será reduzida em até 10% até o próximo mês de maio.