Quem saiu de casa ontem certamente se arrependeu em algum momento do dia ao se deparar com o caos que tomou conta das ruas de Curitiba devido à greve dos motoristas e cobradores de ônibus do transporte coletivo da capital e região metropolitana (RMC). Extensos congestionamentos de veículos, ônibus atravessados nas canaletas com pneus vazios, pessoas sem rumo em busca de transporte, brigas por táxis, caronas em lotações a R$ 4, ônibus apedrejados. Essas foram algumas das cenas presenciadas em diversos pontos de Curitiba.
Estima-se que pelo menos 900 mil usuários foram prejudicados com a paralisação. Os transtornos devem continuar hoje com a manutenção da greve. Para assegurar uma estrutura mínima de transporte, devem circular nos horários de pico (entre 5 e 8 horas e 18 e 21 horas) 1.560 ônibus 60% da frota total de 2, 6 mil veículos. No restante do dia, a frota será mais reduzida 1.040 (40% do total). Caso essa demanda não esteja efetivamente operando, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros (Sindimoc) será multado em R$ 50 mil/dia.
A oferta ficou acertada na tarde de ontem, numa reunião na Procuradoria Regional do Trabalho, em Curitiba. Quem intermediou a reunião, que teve a participação de trabalhadores, patrões e da Urbs (empresa que gerencia o sistema), foi o procurador do trabalho Ricardo Bruell da Silveira. Outro ponto em consenso foi que o acordo salarial deverá ser definido até amanhã prazo para o fim da greve. Caso contrário, o Ministério Público poderá julgar o movimento como dissídio coletivo.
Apesar do Sindimoc se mostrar empenhado em lutar pelo aumento salarial de motoristas e cobradores, representantes da classe mostraram-se insatisfeitos com a greve. "O objetivo é aumentar a passagem para depois aumentar o nosso salário", acusa um motorista que pediu anonimato. Além disso, há quem acredite que a greve seja resultado de brigas internas do sindicato. Para o diretor-presidente da Urbs, Paulo Schmidt, há uma conotação política no movimento. "Nós tínhamos certeza de que um acordo tinha sido feito. Houve infiltração de outras pessoas e manifestações políticas diversas na assembléia (que optou pela greve)", diz Schmidt. O Sindimoc nega as acusações
Vandalismo
Grupos de grevistas permaneceram durante todo o dia em frente às garagens de empresas de ônibus. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), 120 ônibus foram depredados. Também há registro de vários tumultos em terminais. O principal deles foi no Terminal Capão Raso, onde alguns motoristas tentaram entrar com ônibus, mas foram impedidos por colegas. Um carro da empresa Redentor foi parcialmente incendiado.
Devido ao grande número de veículos nas ruas, vários pontos de congestionamentos foram detectados. As praças Rui Barbosa, Carlos Gomes, Tiradentes, Santos Andrade e as ruas Marechal Deodoro, Marechal Floriano, Getúlio Vargas, Silva Jardim, Visconde de Guarapuava e Sete de Setembro foram alguns dos locais mais atingidos.
No início da noite, parte dos ônibus voltou a circular, mas a frota não cumpria a determinação do Ministério Público do Trabalho (MPT), segundo o presidente do Setransp, Rodrigo Hoelzl. "Desde que saiu a decisão estamos tentando cumprir o determinado, mas o Sindimoc não está colaborando", disse.
A manicure Macilene Costa, 29 anos, comemorou o fato de poder ir para a escola ontem à noite. "Ainda não sei como vou voltar para casa, espero que até lá ainda tenha ônibus."
Custos
O diretor-presidente da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), Alcidino Bittencourt Pereira, garantiu que a decisão do governo do estado de abrir mão do ICMS sobre o óleo diesel para o transporte coletivo já foi tomada pelo governador Roberto Requião. "Só falta formalizar o convênio com a prefeitura", ressaltou.
Segundo ele, com o convênio, o governo vai deixar de arrecadar cerca de R$ 19,3 milhõees. Por outro lado, com outras medidas, como a compra de óleo diesel por pregão, poderia ser gerada uma economia de R$ 39,8 milhões ao ano. Na ponta do lápis, ainda segundo Pereira, esse "enxugamento" permitiria uma redução de até 6,4% no valor da tarifa dos ônibus. "Ou seja, não seria necessário aumentar a tarifa para conceder o reajuste de 5%", comentou.
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