O presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Jerson Kelman, disse na terça-feira (5) que vai adiar o início de obras previstas para este ano por falta de dinheiro. Segundo o dirigente, a medida é consequência do reajuste de 15,2% na conta de água autorizado na segunda-feira (4) pela agência reguladora do setor, índice inferior aos 22,7% solicitados pela estatal para compensar as perdas provocadas pela crise.
“Nós pedimos 23% com a consciência de que isso era o necessário. Como a agência reguladora, a Arsesp, nos deu 15%, essa diferença significará que algumas obras que tínhamos intenção de começar em 2015 serão postergadas”, disse Kelman em entrevista à TV Globo. Questionada pelo Estado, a Sabesp não citou exemplos de obras que serão afetadas.
Segundo Kelman, nenhuma das obras consideradas necessárias para garantir o abastecimento de água sem rodízio será adiada. “As obras vinculadas à garantia hídrica, isto é, as obras para trazer água para a região metropolitana e para as cidades do interior que têm risco de desabastecimento, são absolutamente prioritárias e não sofrerão nenhum adiamento”, disse.
Na segunda-feira, Kelman e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciaram o início das obras de transposição de água do Sistema Rio Grande, braço limpo da Represa Billings, para o Alto Tietê, considerada a ação mais urgente para evitar o rodízio. A conclusão de interligação dos mananciais havia sido prometida pelo tucano para maio, mas agora o prazo de entrega foi prorrogado para setembro. Segundo Alckmin, o atraso aconteceu porque o governo decidiu seguir as regras de licenciamento ambiental.
Em março, a Sabesp pediu à Arsesp que o reajuste extraordinário na tarifa fosse de 22,7%, dos quais 7,8% seriam para repor a inflação acumulada em um ano e 13,8% para recuperar a queda de faturamento por causa da redução de consumo a partir de 2014 e do aumento de despesas com energia elétrica, cujas tarifas também subiram por causa da estiagem.
À época, a Arsesp havia autorizado preliminarmente um reajuste de 13,8%. Para Rui Affonso, diretor econômico-financeiro da Sabesp, o índice não garantia o equilíbrio financeiro da empresa. “Nós precisamos atravessar 2015 sem rodízio, sem interrupção das obras e sem complicar mais a vida do consumidor”, disse o diretor na ocasião.
Antes da definição do reajuste, a Sabesp já havia anunciado a redução em 55% dos investimentos em coleta e tratamento de esgoto em 2015 por causa da crise para sobrar dinheiro para “antecipar os investimentos em água”. Em 2014, a companhia registrou uma queda de 6,7% na receita operacional em relação ao ano anterior e de 53% no lucro, que caiu de R$ 1,9 bilhão para R$ 903 milhões.
Ainda assim, a estatal vai pagar R$ 252,3 milhões em dividendos aos seus acionistas: 50,3% para o governo paulista e 49,7% para investidores nas bolsas de São Paulo e Nova York. A Sabesp pagou ainda R$ 504 mil em bônus para os seis diretores em 2014, quando teve início o racionamento de água na Grande São Paulo. Segundo a estatal, os valores referem-se a uma gratificação pelos resultados financeiros obtidos em 2013.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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