Depois de controlar a rebelião que destruiu parcialmente a Penitenciária Estadual de Alcaçuz e o Pavilhão Rogério Coutinho Madruga, na região metropolitana de Natal, o desafio das autoridades foi determinar o número de mortos.
O secretário de Estado da Justiça e da Cidadania do Rio Grande do Norte, Wallber Virgolino Ferreira da Silva, confirmou ao menos 10 mortos, em coletiva na manhã deste domingo (15). Entretanto, ao sair do local, o secretário foi informado por um agente penitenciário que 27 corpos já teriam sido encontrados. “Secretário, eu contei 27 troncos”, disse o servidor ao secretário diante de jornalistas e assessores.
No início da noite do domingo (15), a Secretaria Estadual de Segurança confirmou que havia 26 mortos.
Informações conflitantes
Outra informação conflitante foi dada por um delegado. “Certamente há mais de 30 mortos”, disse a jornalistas o delegado Otacílio de Medeiros, ao sair do centro penitenciário, o que triplicaria o balanço de mortos divulgado até agora.
Virgolino afirmou que a rebelião foi a maior já registrada no complexo prisional, fundado no final da década de 1990. “É a maior rebelião em número de mortos, mas não iremos superar Roraima”, disse. No dia 7 de janeiro, 31 presos foram mortos em penitenciária de Roraima.
Um indicativo de que o número de vítimas em Natal pode ser maior do que o anunciado até agora é a estrutura montada pelo Instituto Técnico de Perícia (Itep/RN). O diretor do órgão, Marcos Brandão, confirmou que foi montada uma estrutura com capacidade para receber até 100 corpos. Um caminhão refrigerado com espaço para armazenar 50 cadáveres foi alugado para auxiliar o trabalho.
Brandão afirmou que todos os corpos passarão por necropsia. No caso dos decapitados, ele disse que serão necessárias fotos de rosto e até exames de arcada dentária para a confirmação das identidades. Tendas estão sendo armadas em frente à sede do Itep/RN para abrigar familiares dos presos mortos na rebelião. A expectativa é que os primeiros sejam transportados da Penitenciária para o Itep ainda neste domino.
PCC
Pelo menos seis homens, pertencentes à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), foram identificados como os responsáveis pela rebelião que destruiu parcialmente a Penitenciária Estadual de Alcaçuz e o Pavilhão Rogério Coutinho Madruga. A rebelião foi controlada no início da manhã deste domingo, por policiais militares e agentes penitenciários.
O secretário de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social, Caio Bezerra, destacou que a ação de retomada de controle da unidade prisional foi positiva. “Os presos não reagiram e estamos avançando na contenção de todos os pavilhões”, frisou. Ele também evitou falar no número de mortos, mas destacou que todas as informações serão repassadas no momento oportuno.
Rebelião controlada
As forças de segurança entraram de manhã na penitenciária de Alcaçuz, a maior do estado, cerca de 14 horas depois do início da rebelião. Para o governo, este seria o mais recente episódio de uma guerra entre facções pelo controle dos presídios do país. “A situação está absolutamente controlada”, disse Caio Bezerra, em uma coletiva de imprensa.
A rebelião começou na tarde de sábado, antes das 17h, quando os presos de um dos pavilhões invadiram a ala onde ficam os membros de um grupo criminoso rival. As forças de segurança cercaram o exterior da penitenciária e tiveram de esperar até domingo de manhã para entrar nos pavilhões com veículos blindados, já que os detentos tinham cortado a energia elétrica e estavam fortemente armados.
O coordenador da administração penitenciária estadual, Zemilton Silva, apontou na véspera que havia pelo menos três corpos decapitados, um símbolo recorrente do nível de violência que se vive nas prisões superpopulosas do país.
Auxílio e fuga
Em sua conta do Twitter, o presidente Michel Temer disse que está acompanhando o caso de perto e que ordenou que se preste “todo o auxílio necessário” ao Rio Grande do Norte.
O Ministério da Justiça convocou os secretários de Segurança de todos os estados do país para uma reunião na próxima terça-feira (17) para estudar “medidas imediatas para a crise do sistema penitenciário”. Além das matanças recentes, uma série de fugas tem sido registrada em diferentes instituições.
Na madrugada deste domingo, 28 presos fugiram da Penitenciária Estadual de Piraquara 1, na região metropolitana de Curitiba, após um grupo de 15 cúmplices explodir um muro do centro e confrontar os policiais com armas de guerra.
A Secretaria de Segurança do Paraná informou que dois homens foram mortos durante a fuga e que outros quatro foram capturados. No lugar do confronto, foram encontrados fuzis de grande calibre e uma metralhadora Uzi. “A situação dentro da prisão está controlada”, disse uma assessora do governo do Paraná.
Parte do grupo que atacou o presídio invadiu uma casa próxima ao local e fez uma mulher de refém, mas se entregou depois da chegada de um batalhão de operações especiais da Polícia.
Superlotação
A penitenciária de Alcaçuz fica a cerca de 25 quilômetros de Natal em uma área rodeada de dunas. Segundo dados da Secretaria estadual de Justiça, o centro tem capacidade para 620 presos, mas abriga 1.083.
As prisões brasileiras se tornaram palco de uma guerra pelo controle do narcotráfico, a qual as autoridades atribuem às duas maiores facções do país: o Primeiro Comando da Capital, o PCC, paulista, e o Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e seus aliados.
“Existe uma luta pelo poder, pelo domínio do tráfico de drogas no Brasil. Uma luta que vem de outros estados e em que os grupos tentam ganhar espaço. E o espaço no mundo do crime se ganha com força e violência”, explicou Walber Virgolino.
De acordo com os jornais locais, a disputa em Alcaçuz acontece entre o PCC e o Sindicato do Crime, aliado ao CV. Já a Secretaria estadual de Segurança afirma que ainda está investigando “a participação de facções” na rebelião.
Na terça-feira (10) passada, o governo mobilizou 200 homens da unidade especial da Força Nacional nos estados de Amazonas e Roraima, após dias de matanças em grande escala em suas prisões.
Em Manaus, capital do Amazonas, 56 presos morreram em um motim no último 1º de janeiro, na segunda maior chacina penitenciária registrada no país. Fica atrás apenas do massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 detentos morreram.
Quatro dias depois, o horror se repetiu em um presídio de Boa Vista, capital de Roraima, onde 33 detentos foram mortos.
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