A expansão da EaD (educação a distância) pode ganhar novo fôlego a partir deste ano. Com o endurecimento das regras do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), do governo federal, estudantes de classes C, D e E começam a olhar a modalidade como uma opção mais econômica para cursar ensino superior.
Alex Orteiro, 24, é um deles. Aluno de gestão de TI (Tecnologia da Informação) na Universidade Estácio de Sá, ele ingressou no curso no começo deste ano, após desistir de uma vaga numa graduação presencial. “Como não consegui o Fies, não teria como pagar.”
Hoje, ele arca com as mensalidades da faculdade, cujo valor é menos da metade do que ele pagaria na graduação presencial. “No final, estou gostando bastante. Por estudar em casa eu acabo tendo mais tempo”, diz.
“O custo de um sistema on-line é muito menor que um presencial. Isso vai permitir uma mensalidade compatível para quem tem menos dinheiro”, afirma Carlos Monteiro, fundador da consultoria educacional CM Consultoria.
O coordenador de estudos de mercado Paulo Presse, da consultoria educacional Hoper, endossa a projeção. “Vai haver uma potencialização [de cursos EaD] em 2015 e 2016, provocada pelos alunos que não conseguiram financiamento.”
Para os consultores, o fundo estudantil se tornou o grande competidor da EaD a partir de 2010, quando o governo passou a oferecer melhores condições de financiamento a estudantes -de 2010 a 2014, quase 2 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo subsídio.
“De cinco anos para cá, o ensino presencial dobrou, mas só porque tinha financiamento”, afirma Carlos Longo, diretor da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância). Ele projeta que, até 2020, a EaD cresça entre 12% e 16%, e que o ensino presencial volte a crescer em ritmo mais lento, na casa dos 3% ao ano.
Nem todos os especialistas concordam com a tendência. Para o diretor acadêmico da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), Waldomiro Loyola, as mudanças não afetarão a demanda por EaD. “Se a pessoa não tinha como pagar um curso superior antes, tampouco vai ter condições para pagar uma EaD privada”, afirma.
A diretora de ensino de graduação a distância da UnB, Nara Pimentel, pondera. Para ela, as taxas de evasão desses estudantes podem ser grandes por falta de investimentos na modalidade.
“Vai haver um impacto positivo do ponto de vista do acesso, mas talvez não do da permanência desses alunos, porque isso implica infraestrutura e subsídios, que são restritos”, diz.
Em nota, o Ministério da Educação afirma que, por enquanto, a possibilidade de novas políticas públicas de incentivo e financiamento a alunos da EaD não está em discussão. Quanto à expectativa de migração dos alunos do Fies para cursos a distância, o ministério não se manifestou.
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