Depois de achar que haviam ganhado a batalha, as autoescolas voltam à guerra contra o simulador de direção. Por determinação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), órgão do Ministério das Cidades, o protótipo de ares futuristas se torna obrigatório a partir de 1.º de janeiro de 2016. A resolução levará cada centro de formação de condutores a ter no mínimo um aparelho e a oferecer a todos os candidatos à obtenção de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) cinco horas/aula de simulação, sendo uma com conteúdo noturno.
A medida está preocupando os donos dos centros de formação por dois motivos: o equipamento custa entre R$ 30 mil e R$ 40 mil e tornará mais caro o processo de obtenção da CNH.
“Calculamos que aumentaremos, por baixo, em R$ 300 o custo de cada nova habilitação. Mas não temos uma ideia precisa disso. Do que temos certeza: o simulador é uma coisa inútil”, diz Braz Aguiar, proprietário da Autoescola Fox, no Pinheirinho, Região Sul de Curitiba. O processo para obtenção de uma CNH para carros – categoria “B” – custa atualmente, em média, R$ 1.650.
Anteriormente, somente Rio Grande do Sul, Acre, Paraíba e Alagoas exigiam as aulas nos simuladores. Agora o Contran também decidiu que as aulas em ambiente virtual devem ser realizadas em todo o país, entre o curso teórico e o prático.
Inicialmente, a determinação vale para carros de passeios. Posteriormente, será obrigatório o uso do simulador para veículos comerciais, caminhão, ônibus e motos.
“Qual o sentido de exigir isso? O negócio parece um videogame. O que realmente é necessário no trânsito brasileiro são as aulas práticas, maior perícia dos motoristas na vida, estrada e sinalização em melhores condições”, afirma Karla Martins, diretora da Autoescola Belo e especialista em trânsito. “Isso me cheira a lobby e a extorsão. Como pode um carro de mentira ser mais caro do que a maior parte dos veículos novos?”, questiona.
A empresária também aponta para uma dificuldade que ainda não foi calculada: as filas. “As autoescolas terão de comprar mais de um simulador. Hoje um processo de CNH demora 120 dias. Se comprarmos apenas um equipamento, a coisa toda pode demorar até nove meses. Para cada 60 veículos de verdade, a estimativa é que teremos de comprar 20 equipamentos de mentira, um investimento de mais de R$ 600 mil. Sem contar nas adaptações de espaço”, alega.
“As autoescolas menores correm o risco de quebrar”, enfatiza Braz Aguiar. “Sabemos que os nossos custos aumentarão em mais de 35%. Só que ainda não contabilizamos alguns gastos. Certamente, o candidato sentirá o impacto dessa nova medida”, completa.
Uma solução ainda pouco estudada na categoria é o regime de aluguel dos simuladores. “Alguém terá de fazer um investimento de vulto para o mercado não parar. E pode ser que algumas autoescolas menores acabem sugerindo alugar os protótipos das autoescolas maiores. Ainda assim, é certo que isso deixará tudo bem mais caro ao candidato”, diz Aguiar.