"Sou uma mulher de sorte. E nesta terça-feira (14) tive mais uma demonstração disso. Saí mais ou menos às 19h30 da Gazeta do Povo e, resignada com a greve, comecei a caminhar em sentido à minha casa, localizada nas proximidades da Avenida Anita Garibaldi, no bairro Cabral, na altura do Tribunal de Justiça. O trajeto a pé, do jornal até a minha casa, dura 45 minutos.
Mas a sorte, como afirmei, veio bater mais uma vez à minha porta. Ao passar em frente ao Paço da Liberdade, na Praça Generoso Marques, qual não foi a minha surpresa ver de longe um ônibus parado na Rua Prefeito João Moreira Garcez, ao lado da Catedral. "Estarei vendo uma miragem?", brinquei comigo mesma.
Caminhei em direção ao ponto e o ônibus arrancou. Fiz sinal e, gentilmente, o motorista parou, mesmo já no meio da quadra e pronto para virar à esquerda. "Há mais ônibus circulando na cidade?", perguntei ao subir, depois de agradecer. "Acho que não moça, só a gente que conseguiu dar uma fugidinha", disse o cobrador. "Essa é a nossa segunda viagem", completou.
Paguei a passagem e, no trajeto, fomos conversando. No ônibus, além de mim, havia dois homens e uma senhora, felizes como eu de conseguir pegar talvez o único ônibus em funcionamento na cidade. Na rua, sentíamos os olhares curiosos de pedestres e outros motoristas. Conversamos sobre as dificuldades do transporte coletivo, o preço da passagem que deve aumentar, o abuso dos taxistas, as pressões políticas e a falta de obediência dos grevistas às decisões judiciais.
"É moça, não está sendo fácil nem para quem quer dar uma ajudinha à população como a gente", desabafou o motorista. Não deu tempo para rebater que aquilo não era uma simples "ajudinha", mas algo exigido pela justiça: às 19h50 cheguei ao ponto. Antes de descer, agradeci e desejei a eles ânimo para enfrentar as previsíveis represálias dos colegas. Eles vão precisar."