O angolano Wilson Madeira se locomove com plena autonomia pelo oitavo andar da Uninter, campus Garcez, no Centro de Curitiba. Mesmo sem enxergar, caminha com desenvoltura pelas salas. “Já decorei o espaço. Fiz um mapa na cabeça”, diz. Há três meses, aquele é o ambiente de trabalho dele e de outros quatro refugiados angolanos – todos cegos – que em abril conquistaram o visto que lhes dá direito de permanecer definitivamente no Brasil. Com o trabalho, puderam começar a realizar o sonho de se tornarem plenamente independentes.
“O trabalho reestruturou nossa autoestima, nossa dignidade, nossas aspirações. Agora, podemos nos manter por conta própria, como sempre quisemos, e atuando em algo de que realmente gostamos”, disse.
Todos trabalham no instituto que é o “braço social” do Grupo Uninter. Contratado como analista administrativo, Madeira presta consultoria a projetos – principalmente sobre acessibilidade e inclusão – e representa a direção em fóruns e conferências. Rui Fonseca é instrutor de informática: ministra aulas em um projeto voltado a jovens em vulnerabilidade social e a deficientes visuais.
Delfina Amarilis Américo, Prudêncio Tumbika e Jacob Cachinga também integram a equipe, mas ainda estão em fase de capacitação. Ela vai fazer o controle de qualidade dos áudios das aulas de ensino a distância do grupo. Já criou até padrões de qualidade para os vídeos. O comunicativo Tumbika vai atuar no relacionamento com alunos. “Enfim, estamos conseguindo nossa independência”, festejou Delfina.
O trabalho exerceu um poder transformador em Cachinga. Prestes a se formar em Educação Física, o rapaz percorreu academias e escolas de Curitiba a procura de oportunidades. Uma a uma, as portas se fecharam por causa da sua condição. Contratado pelo instituto, ele vem atuando em projetos recreativos que envolvem grupos de idosos e de adolescentes. Carismático, conduz as turmas com segurança.
“Eu estava em depressão. Graças ao trabalho, vi que sou capaz de contribuir com a sociedade. Às vezes, tudo de que o ser humano precisa é de uma chance”, contou.
Entre as qualidades do grupo, a diretora do instituto social da Uninter, Adenir Fonseca dos Santos, destaca o comprometimento, a organização, a sensibilidade e a vontade de aprender dos jovens. “Cada um deles tem talentos específicos. Investimos nos profissionais, ao mesmo tempo em que ganhamos em inclusão social”, disse.