O angolano Wilson Madeira se locomove com plena autonomia pelo oitavo andar da Uninter, campus Garcez, no Centro de Curitiba. Mesmo sem enxergar, caminha com desenvoltura pelas salas. “Já decorei o espaço. Fiz um mapa na cabeça”, diz. Há três meses, aquele é o ambiente de trabalho dele e de outros quatro refugiados angolanos – todos cegos – que em abril conquistaram o visto que lhes dá direito de permanecer definitivamente no Brasil. Com o trabalho, puderam começar a realizar o sonho de se tornarem plenamente independentes.
“O trabalho reestruturou nossa autoestima, nossa dignidade, nossas aspirações. Agora, podemos nos manter por conta própria, como sempre quisemos, e atuando em algo de que realmente gostamos”, disse.
Depois das ameaças, a “volta por cima”
- Felippe Aníbal
O início do ano foi de angústia para os dez angolanos radicados em Curitiba. Eles chegaram crianças ao Brasil, fugindo da guerra civil. Em novembro, o governo de Angola pressionou-os a voltar e cortou a bolsa de todos. Eles sofreram ameaça de despejo e só não passaram fome por solidariedade dos amigos. Mas os jovens tiveram uma boa surpresa: foram a um quadro do Caldeirão do Huck. “O dinheiro possibilitou pagar adiantado o aluguel da nova casa”, diz Delfina Amarilis Américo. A volta por cima não foi simples: conseguir um trabalho exigiu persistência. Além dos cinco contratados pela Uninter, Maurício Dumbo estagia no Tribunal de Justiça. Isabel Yambi aguarda uma vaga de estágio no Ministério Público.
Todos trabalham no instituto que é o “braço social” do Grupo Uninter. Contratado como analista administrativo, Madeira presta consultoria a projetos – principalmente sobre acessibilidade e inclusão – e representa a direção em fóruns e conferências. Rui Fonseca é instrutor de informática: ministra aulas em um projeto voltado a jovens em vulnerabilidade social e a deficientes visuais.
Delfina Amarilis Américo, Prudêncio Tumbika e Jacob Cachinga também integram a equipe, mas ainda estão em fase de capacitação. Ela vai fazer o controle de qualidade dos áudios das aulas de ensino a distância do grupo. Já criou até padrões de qualidade para os vídeos. O comunicativo Tumbika vai atuar no relacionamento com alunos. “Enfim, estamos conseguindo nossa independência”, festejou Delfina.
O trabalho exerceu um poder transformador em Cachinga. Prestes a se formar em Educação Física, o rapaz percorreu academias e escolas de Curitiba a procura de oportunidades. Uma a uma, as portas se fecharam por causa da sua condição. Contratado pelo instituto, ele vem atuando em projetos recreativos que envolvem grupos de idosos e de adolescentes. Carismático, conduz as turmas com segurança.
“Eu estava em depressão. Graças ao trabalho, vi que sou capaz de contribuir com a sociedade. Às vezes, tudo de que o ser humano precisa é de uma chance”, contou.
Entre as qualidades do grupo, a diretora do instituto social da Uninter, Adenir Fonseca dos Santos, destaca o comprometimento, a organização, a sensibilidade e a vontade de aprender dos jovens. “Cada um deles tem talentos específicos. Investimos nos profissionais, ao mesmo tempo em que ganhamos em inclusão social”, disse.
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