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PM diz não haver evidências que liguem policiais ao crime

Em nota, a Polícia Militar do Paraná argumenta que os policiais foram absolvidos em virtude de controvérsias surgidas nos depoimentos de testemunhas do caso. A PM reconhece que os policiais acusados foram até o Morro do Boi para atender uma ocorrência, mas que não tiveram envolvimento na apresentação de Paulo Delci Unfried como suposto autor do crime.

"Com relação à denúncia de tortura, tal fato também não foi confirmado, pois além de inexistir Laudo de Exame de Lesões Corporais de Paulo Delci, foi colhido o depoimento do policial civil responsável pelo recebimento do detido no dia dos fatos, sendo declarado que não havia lesão em Delci", diz outro trecho da nota.

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"Minha vida se tornou um inferno"

O caseiro Paulo Unfried chegou a confessar ser o autor do crime do Morro do Boi, mas voltou atrás. Leia a entrevista completa com ele feita em 2010.

Um dos crimes mais polêmicos do Paraná, o caso do Morro do Boi, que terminou com a morte de Osires Dal Corso e deixou tetraplégica a namorada dele, Monik Pegorari de Lima, em 2009, tem mais um capítulo que volta a deixar dúvidas sobre a autoria do crime. Os cinco policiais militares acusados por formação de quadrilha, roubo e falsa imputação de crime foram absolvidos em processo disciplinar interno da Polícia Militar do Paraná (PMPR).

Com esta decisão, os policiais foram mantidos no quadro da corporação. Quatro deles tiveram seus portes de arma restituídos e estão à disposição para retornarem ao serviço operacional. Um dos agentes não está mais na ativa, e não poderá usufruir destes benefícios.

A reportagem da Gazeta do Povo teve acesso à decisão do comando da PMPR publicada na edição 206 do boletim geral da corporação, que concordou com o parecer de uma comissão processante. A comissão, por sua vez, alegou que, na dúvida, a decisão é favorável ao réu e "a questão probatória se mostrou controvertida".

Mesmo absolvidos internamente, os policiais respondem processo relacionado ao crime do Morro do Boi, que tramita em segredo de justiça na comarca de Matinhos. Eles são acusados de ter forjado uma história para incriminar Paulo Delci Unfried e, dessa forma, inocentar o principal acusado do crime: Juarez Ferreira Pinto, que acabou sendo condenado em 2010 a 65 anos de prisão.Entenda o caso

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) prendeu em junho de 2011 cinco policiais militares, um delegado, um policial civil e um guarda municipal. De acordo com o MP, os detidos montaram uma farsa para tentar inocentar Juarez, que é irmão do policial civil Altair Ferreira Pinto. Ainda segundo o MP, eles teriam elaborado um plano para incriminar Paulo Delci Unfried, que chegou a confessar a autoria do crime do Morro do Boi e foi preso com a arma do crime. Ele já tinha passagem pela polícia em Medianeira, no interior do Paraná quando era menor de idade.

De acordo com o advogado criminalista Giordano Vilarinho Reinert, que defende um dos policiais militares, a absolvição dos policiais no Conselho Disciplinar foi embasada em depoimentos de testemunhas e na absoluta falta de provas contra os policiais. "Podemos estar diante do maior erro judicial da história do Paraná", disse Reinert, que pretende anexar a decisão da PMPR no processo que corre em Matinhos.

O advogado Senio Abdom Dias, que também defende um dos policiais disse que tem certeza absoluta que existe um inocente preso e condenado a 65 anos de prisão. "Juarez não é culpado. Houve necessidade de apresentar um culpado à sociedade. Temo pela vida de Juarez, que é de saúde frágil. Se ele morrer na prisão, junto com ele morre a possibilidade de se fazer justiça. Respeito muito a vítima e suas famílias, mas seria importante para a sociedade colocar na cadeira o verdadeiro culpado", disse Dias. Segundo ele, Juarez foi preso só pelo reconhecimento, mas que há provas suficientes para que a culpabilidade fosse imputada a Paulo Delci Unfried. E essa tese, argumenta, se acentua com a decisão da comando da PMPR de inocentar os policiais. "Essa decisão foi comemorada pela família dos policiais, que foram prejudicadas. Filhos, esposas de policiais que tiveram suas vidas maculadas erroneamente por este fato que não ocorreu", completa.

Para Reinert, a condenação de Juarez foi feita apenas com base no reconhecimento de Monik, que na época estava abalada emocionalmente. "O condenado não tinha condições físicas de subir o morro. Foram omitidos depoimentos de Monik onde ela afirmava que o autor teria o sotaque do interior, característica de Paulo, que morou em Medianeira, interior do estado."

Já o advogado Elias Mattar Assad, que acusou Juarez, discorda de uma possível reviravolta no caso. Ele explicou que Paulo Delci Unfried sequer consta como co-réu no processo. "Não vejo nenhuma correlação entre os fatos e acredito que a absolvição administrativa dos policiais em nada será aproveitado em favor do réu", disse Assad.

O Ministério Público informou que não vai comentar o assunto. O órgão se limitou a dizer, através de sua assessoria de imprensa, que a decisão do comando da PM não traz interferência para o processo, já que são ações diferentes e que tramitam em esferas diferentes.

Crime

O casal de namorados Osires Dal Corso e Monik Pegoraro de Lima estavam em uma trilha no Morro do Boi no dia 31 de janeiro de 2009 quando foram atacados. Osíris recebeu um tiro no peito e morreu após tentar salvar a namorada Monik, que também foi baleada. Ela acabou ficando tetraplégica.

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