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Parceria

Combate a crimes financeiros une Brasil e EUA na fronteira

Foz do Iguaçu – O governo brasileiro está decidido a acabar com a ilegalidade arraigada na cultura comercial de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, Paraguai. Para isso, passará a contar com apoio do governo norte-americano a fim de atuar com mais rigor na guerra contra os crimes de lavagem de dinheiro, contrabando e tráfico de drogas.

Segundo a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, dentro de dois meses, uma "agência de transparência comercial" será instalada em Brasília para monitorar a circulação financeira da tríplice fronteira. O objetivo, de acordo com a Agência de Migração e Fiscalização Aduaneira dos Estados Unidos (ICE), é investigar "anomalias" indicativas da lavagem de dinheiro ou atividades criminosas ligadas ao comércio. A ICE é uma divisão do Departamento de Segurança Interna dos EUA.

Para a ICE, a área da tríplice fronteira é considerada fonte de captação de recursos para grupos radicais islâmicos, como o Hezbollah e o Hamas, além de ser o mais ativo centro de tráfico e contrabando.

A porta-voz do Consulado Americano em São Paulo, Jennifer Bullock, diz que o escritório vai possibilitar que os países compartilhem informações sobre transações financeiras. Agências semelhantes serão instaladas no Paraguai e na Argentina. Segundo Jennifer, a instalação da agência é fruto de uma parceria entre o governo norte-americano e o governo brasileiro, por meio da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal (RF).

Silêncio

A movimentação e os anúncios oficiais dos americanos não estão sendo suficientes para quebrar o silêncio do governo brasileiro em relação ao assunto. O Itamarati informou ontem, por meio da assessoria de imprensa, que não teve participação no convênio feito com os americanos para instalar a agência no Brasil. Segundo o órgão, nesta semana serão feitas reuniões em Brasília para tratar do assunto. A reportagem consultou a RF e a PF em Foz do Iguaçu e Brasília, mas ambas as corporações desconhecem o convênio entre os dois países.

Para o professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco de São Paulo (SP), Gunther Rudzit, o governo brasileiro não quer assumir publicamente a parceria com os norte-americanos por questões políticas. Segundo ele, o receio explica-se pelo fato de o governo querer evitar a associação entre o PT e os americanos. "Eles não podem parecer aliados de Bush", diz. Segundo Rudzit, o governo Lula é o aliado preferencial do presidente George Bush na América do Sul, mas não assume a condição ao eleitorado petista para não parecer que o Brasil foi entregue aos Estados Unidos. O professor diz que o interesse dos norte-americanos está mesmo no combate ao terrorismo, narcotráfico e crime organizado, situações que criam problemas à população dos EUA. "Não há ambição americana de tomar o território pela força", salienta.

Para o professor do Instituto de Estudos Econômicos e Sociais do Paraguai, Wagner Enis Weber, há um interesse comercial dos Estados Unidos na região, o que vem fazendo o Paraguai se aproximar dos norte-americanos nos últimos anos. Segundo ele, os EUA estão fazendo um papel que o Brasil deveria fazer no âmbito do Mercosul e vêm inclusive financiando a abertura de indústrias no país. "Nos últimos anos o Brasil jamais deu importância aos países menores. Focou a relação com a Argentina e esqueceu do Paraguai e Uruguai."

Conforme levantamentos feitos pelo Instituto, no ano passado o Paraguai importou cerca de 200 milhões de CDs virgens para serem consumidos por brasileiros. Atualmente, o comércio paraguaio movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão ao ano, de acordo com o Centro de Importadores de Alto Paraná (Cicap).

Muçulmanos

Na opinião do presidente do Centro Cultural Beneficente Islâmico de Foz do Iguaçu, Zaki Mohamad Moussa, o real interesse dos norte-americanos não é vigiar os muçulmanos, mas sim proteger seus cidadãos. "Eles estão de olho na importância estratégica da região. O álibi dos árabes é uma desculpa. Quem sabe com a vinda deles a violência na fronteira diminua", diz. Foz do Iguaçu concentra a maior colônia muçulmana do Brasil depois de São Paulo com cerca de 12 mil imigrantes e descendentes de árabes, sírios, palestinos e libaneses.

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