Ponta Grossa Cerca de quinze áreas cobertas de lonas plásticas pretas e transparentes, de aproximadamente 100 m2 cada, viraram alvo de uma disputa entre ambientalistas e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) no Parque Estadual de Vila Velha. As lonas, espalhadas em diversos pontos da área do parque desde setembro, fazem parte de uma pesquisa que visa tentar erradicar uma das pragas existentes no local: o capim-gordura, espécie de vegetação exótica que se espalha facilmente e é responsável pela maioria das queimadas ocorridas no parque.
As capas plásticas servem para abafar a vegetação e o calor provocado pelos raios de sol queima todas as plantas que estão embaixo das áreas cobertas. A pesquisa, com duração de um ano, é autorizada pelo IAP e conta com a participação de duas acadêmicas de Biologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
De acordo com o professor emérito do Departamento de Geociências da Universidade Federal do Paraná (UFPR) João Bigarella, a pesquisa é totalmente irregular e vai contra um acordo firmado entre o governo estadual e o Ministério Público (MP) para restaurar a paisagem natural e transformar o local em um modelo de sustentação ecológica. "As lonas acabam abafando outras espécies de vegetação nativa, como a palmeira-anã, além de acabar com pequenos animais que vivem junto ao solo", reclama.
O professor realizou uma vistoria no parque na semana passada e apresentou um documento ao promotor público Edson Peters. Segundo ele, o estado não vem cumprindo o seu papel e a pesquisa causa danos a outras plantas e animais. "Um parque não é o melhor local para fazer experimentos", diz. Com base no relatório de Bigarella, o promotor vai pedir explicações à chefe regional do IAP, Elma Romanó, inclusive em relação a possíveis inscrições nos arenitos. "Essa autorização de pesquisa é um risco para o parque", afirma Peters.
Plano de manejo
Para o engenheiro agrônomo do IAP e responsável pelo experimento, Luiz Augusto Diedrichs, a pesquisa de erradicação do capim-gordura está prevista no plano de manejo do parque e tem o aval de técnicos e especialistas. "Essa experiência pode dar uma impressão de agressão ao meio ambiente, mas tem recomendação técnica, está legalizada e nada está fora dos padrões exigidos", explica.
De acordo com Diedrichs, a pesquisa faz parte de um projeto maior, que seria a erradicação de outras espécies exóticas, como o pinus, eucalipto e até de animais que não fazem parte da fauna do parque, como o javali, e a restauração da vegetação do local, com o plantio de mudas de espécies nativas. "Se a técnica utilizada causa ou não a morte de outras espécies de vegetação, só os resultados finais dirão. Por isso, as áreas cobertas são relativamente pequenas", conclui o engenheiro do IAP.
Como a experiência começou há três meses, uma avaliação preliminar será feita apenas no fim deste mês. No entanto, ele já percebeu dificuldades para executar a técnica no parque, como a fixação das lonas plásticas em função dos ventos e o acúmulo de água após as chuvas.
Outras experiências serão realizadas para tentar erradicar o capim-gordura e serão alternativas ao controle da praga pelo fogo, corte ou por herbicidas, medidas usadas atualmente. "Estamos abertos a qualquer tipo de propostas, sugestões e alternativas técnicas para a manutenção do ecossistema", afirma Diedrichs. Para Bigarella, o uso de animais como carneiros e veados para comerem o capim pode ser uma alternativa que não cause dano à vegetação do parque.
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