Professores e secretários de governo se sentam à mesa, hoje, para a primeira rodada de negociações desde o início da greve na rede estadual de educação. A paralisação, no entanto, parece estar distante do fim. Ontem, a categoria recebeu mal o anúncio de que o governo deve reenviar à Assembleia Legislativa o "pacotaço" que prevê medidas de austeridade que afetam os servidores públicos. O sindicato que representa os educadores ressalta que a categoria não está disposta a ceder e considera que a reapresentação dos projetos compromete um possível acordo.
"Nossa postura é completamente contrária a este encaminhamento [do "pacotaço"]. O governo já inicia a negociação criando um empecilho, um grande entrave", definiu Luiz Fernando Rodrigues, diretor de comunicação da APP-Sindicato. "Temos fôlego para, se for preciso, ficarmos parados o ano todo", completou.
O anúncio de que o "pacotaço" será enviado novamente à Assembleia havia sido feito na tarde de ontem, pelo secretário da Casa Civil, Eduardo Sciarra (PSD). Entretanto, desta vez o "pacotaço" deverá ser desmembrado por "grupos de assuntos" e devem passar pelas comissões temáticas. Ou seja, não haverá o chamado "tratoraço" em que a Assembleia é transformada em comissão geral, agilizando a tramitação e a votação de projetos.
"Ao longo dos próximos três dias, vamos trabalhar a forma com que esses projetos serão encaminhados à Assembleia: fatiados, de que forma, colocados por grupos de assuntos... e a partir de segunda-feira ou até terça, encaminhar os projetos à Assembleia", disse.
Mobilização
Enquanto isso, a greve entra no décimo dia com os professores mobilizados. Com apoio de outros servidores públicos, educadores passaram o Carnaval acampados em frente à Assembleia, no coração do Centro Cívico. Nem a chuva inclemente foi capaz de espantar o grupo, que se mantêm alojado em cerca de cem barracas. Os semblantes explicitam que carregam consigo o orgulho de quem briga por seus direitos.
"A luta é o motor que move a História. Vamos defender com unhas e dentes os direitos que levamos 40 anos para conquistar", disse a pedagoga Ester Assunção, que traz no currículo a participação ativa na greve de 1988. Ela deixou a mãe que recentemente sofreu um AVC para tomar parte no acampamento. "A família entende e apoia", destaca.
Hoje, a APP-Sindicato estima que dez mil servidores integrem a manifestação. Logo após a reunião com o governo marcada para as 14h30 os sindicalistas devem anunciar à categoria os resultados da negociação. Deve haver atos em 30 cidades do Paraná, segundo o sindicato. O governo, por outro lado, acredita no fim da greve.
"Vamos conclamar os professores a irem à sala de aula, para iniciarmos o ano letivo e cumprir a programação, de cumprirmos 200 dias de aulas", adiantou Eduardo Sciarra. O secretário de Estado da Educação, Fernando Xavier Ferreira, estava em reunião e não se manifestou.
Pauta única é elaborada e Defensoria e Detran também resolvem parar
Felippe Aníbal e Rodrigo Batista
O Fórum Estadual dos Servidores (FES) que congrega 16 sindicatos protocolou ontem um ofício na Casa Civil do governo do Paraná, solicitando reuniões de negociação coletiva. A exemplo dos professores da rede estadual de ensino, as outras categorias de servidores públicos unificaram sua pauta em alguns pontos básicos: o não envio do "pacotaço" à Assembleia; a negociação imediata de pagamento dos benefícios atrasados; e o fortalecimento de cada setor, com o fim de terceirizações.
Entre as deliberações do FES está a permanência em greve das categorias que já decidiram parar e a imediata manifestação diante da Assembleia Legislativa, caso o "pacotaço" seja reenviado à Casa. " A orientação é de greve geral, tendo como objeto uma pauta unificada", explicita o documento, aprovado pelo colegiado.
Além dos professores estaduais, continuam em greve os docentes e servidores das seis universidades estaduais. Nas três maiores UEL, UEM e UEPG as aulas já deveriam ter começado ou seriam iniciadas hoje. "Teremos uma aula magna, em que os professores vão apenas explicar aos universitários os motivos da paralisação", disse o presidente do sindicato do professores da UEL, Renato Barbosa.
Ontem, os trabalhadores do Detran-PR e os funcionários da Defensoria Pública também decidiram cruzar os braços. Em ambos os casos, a paralisação afeta o atendimento ao público. "Paramos pela ingerência do governo na autonomia administrativa e funcional da Defensoria Pública", disse Renato de Almeida Freitas Júnior, presidente da associação da categoria.
No Detran-PR, só quatro serviços serão mantidos: liberação de veículos apreendidos ; documentação para veículos direcionados a serviços essenciais (como ambulâncias); exames práticos para a primeira habilitação; e apreensão de habilitações que foram suspensas, bem como liberação da habilitação para motoristas que já fizeram cursos de reciclagem. No caso da Defensoria, o primeiro atendimento ao público feito pelos servidores ficará prejudicado.
Também assinam o ofício encaminhado ao Palácio sindicatos de categorias como os investigadores da Polícia Civil, os agentes penitenciários e os servidores da saúde. Estes, têm assembleia marcada para a próxima terça-feira e podem voltar à greve suspensa na sexta-feira passada.