A lógica de comerciante foi invertida para o casal Ivo, de 62 anos, e Rita Cardozo, de 50, que tem uma loja de confecções e consertos de joias no Bairro Alto, em Curitiba, depois de uma série de assaltos. Para eles, mais vale garantir a segurança do que ganhar novos clientes. Os produtos expostos na vitrine diminuíram, para não atrair criminosos.
Ivo e Rita tinham um estabelecimento no Centro e há dois anos mudaram pro Bairro Alto. Viram oportunidade diante da falta de outro negócio do ramo na região. Só que, além de atrair fregueses, também viraram atração pra marginais. O estabelecimento já foi roubado três vezes.
O último assalto ocorreu há dois meses e meio e mudou completamente a rotina dos comerciantes. Só tem acesso à loja quem já é conhecido pelo casal. Pela câmera instalada na porta, Rita vê quem está lá fora e avisa Ivo se ele pode abrir. Os dois confessam estar desanimados e receosos depois do que houve. “A gente trabalha todos os dias e é chamado de ‘vagabundo’ pelo ladrão, com uma arma apontada. É revoltante”, desabafa Ivo.
Há poucas quadras dali, outro casal, dono de uma loja de roupas e uma de utilidades, também foi vítima de furtos e roubos. De um dos estabelecimentos, Aminadabe Barbosa dos Santos, cuida da esposa, Vanessa, que administra o outro, por meio de câmeras. E vice-versa.
Em uma das vezes que observava Vanessa, o comerciante percebeu algo suspeito. Quando chegou à loja, notou que era assalto. O ladrão com uma faca. “Corri para pedir ajuda. Não dá para encarar”, contou. Aminadabe demonstra conformismo diante da falta de segurança. “Não tem muito o que fazer, né? Sempre foi assim. Se assaltarem novamente e o prejuízo for muito grande, seremos obrigados a fechar as portas”, afirmou. “Chegou a um ponto que só resta orar a Deus”.
Em todo o bairro, o medo e a revolta com a falta de segurança estão disseminados. Há quatro semanas, comerciantes colocaram faixas como forma de protesto. “Governador, se eu for assaltado três vezes, posso pedir música no Fantástico?”, ironizava o problema uma delas, em uma das vias principais. “Atenção, você chegou no Bairro Alto. Local onde segurança é privilégio”, estampava outra.
De acordo com Marcos Amaral, administrador Grupo Bairro Alto, em uma rede social, de onde partiu a ideia das faixas, a iniciativa já surtiu efeito. A presença de policiais no bairro aumentou e houve conversas com membros das corporações que garantiram uma atenção maior para a região.
A troca de informações sobre as ocorrências no grupo levou os membros a constatarem que, todos os dias, acontecem cerca de quatro assaltos no bairro. Qualquer movimento suspeito é relatado pelos moradores e comerciantes, também usam aplicativos de mensagens no celular.
A loja de variedades de Anderson Mercer já foi arrombada quatro vezes. Enquanto investe em equipamentos para tentar garantir maior segurança ao estabelecimento, ele deixa de investir na própria casa. “A gente perde o dinheiro que não tem”, desabafa. O comerciante está traumatizado com os crimes. “Às vezes acordo à noite, porque acho que escutei o telefone tocando. Mas quando pego o aparelho, não tem ninguém do outro lado da linha. A gente sai de casa com medo, trabalha com medo e não tem ninguém para nossa defesa”. O vendedor Renato Weis, 28, também está indignado com a insegurança do Bairro Alto. Há menos de um mês, quando saía de uma panificadora com a mãe, foi abordado por dois marginais, que aparentavam ser adolescentes. Eles usavam bermudas e chinelos e lhe apontaram uma arma. A dupla roubou o Kia Soul dele, que era financiado e não tinha seguro. “Não estou trabalhando agora, porque não tenho carro para usar”, lamenta.
A Polícia Militar informou que o Bairro Alto, de responsabilidade do 20º Batalhão, recebe policiamento diuturno da radiopatrulha e Ronda Tático Motorizada (Rotam), e é foco de operações diversas, como do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Segundo a PM, apreensões e prisões têm sido realizadas na região. A PM destacou que cabe aos cidadãos tomar cuidados básicos, como não deixar à mostra objetos de valor como celulares e relógios, cuidar ao entrar e sair de estabelecimentos comerciais, residências, escolas, não reagir a assaltos e registrar boletim de ocorrência, que embasa as ações policiais.
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