Você já ouviu falar em cachorro-quente sustentável? É simples. O pão é feito com cascas de legumes. A mistura com talos de brócolis e de taioba e couve toma o lugar da tradicional salsicha. O molho é de tomate e manjericão. É isso e nada mais. Está pronto um delicioso prato, barato e saudável.
Cascas, talos e sementes ganham outra "cara" e se transformam em alimentos nutritivos e com sabores inigualáveis quando passam pelas mãos de Regina Tchelly. Pensando na sustentabilidade e na fome de quem não tinha condições de comprar alimentos, ela criou o projeto Favela Orgânica, cuja proposta alia educação, conscientização e meio ambiente.
"A proposta é devolver para a terra o que a terra nos dá", explica a paraibana de 32 anos que hoje atua nas comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, na zona Sul do Rio de Janeiro (RJ). Regina colocou o projeto em prática em setembro de 2011 com o investimento de R$ 140. Dos alimentos, ela aproveita tudo. Faz receitas surpreendentes e até compostagem.
A criatividade da chef é de dar água na boca: biscoitinho feito com casca de tangerina, bolo de chocolate com geleia de casca de maracujá ou estrogonofe com talo de brócolis e caroço de jaca. São mais de 450 receitas disponibilizadas no site do projeto (www.favelaorganica.com).
Essa tecnologia gastronômica, que ela diz ser um dom de Deus, é compartilhada por meio de oficinas e cursos que Regina ministra pelo mundo afora. Nada com carne de boi, peixe, frango ou camarão. A proposta é comer o que se tem.
Em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, Regina participou de um encontro do Programa Cultivando Água Boa, da Itaipu Binacional. Ela, que cozinha desde os 15 anos, ministrou uma oficina para 30 merendeiras e as ensinou a fazer a Farofa do Amor, com talo de couve, farinha de mandioca, azeite e molho de soja. "Picou pequenininho, misturou e está perfeito", diz a chef.
Compostagem
As receitas não são as únicas especialidades de Regina. Em uma das oficinas que ministra, de Compostagem Caseira, ela ensina a fazer dentro de casa o próprio adubo e a horta. Para isso, aproveitam-se restos de alimentos na compostagem. Com o tempo, o composto ganha espaço em potes de margarina, caixas de leite, garrafas pet e caixas de isopor que seriam descartados. Com o adubo, o próximo passo é fazer uma hortinha, que pode ser cultivada no quintal de casa ou na varanda do apartamento.
Recentemente, Regina preparou 40 hortinhas para distribuir aos moradores da comunidade Babilônia. "Fiz sem nenhum centavo, pegando caixas de isopor à noite. Eu quero mudanças."
Sem desperdício
Cascas são nutritivas e fazem bem para o sistema digestivo
A nutricionista e professora da Faculdade Uniamérica, de Foz do Iguaçu, Soraia Younes diz que muitos alimentos guardam os mais importantes nutrientes exatamente na casca, cujas fibras ajudam no funcionamento do intestino.
Apesar de as cascas serem ricas em nutrientes, as pessoas têm o hábito de eliminá-las por medo dos agrotóxicos. Soraia explica que não há forma de se livrar dessas substâncias. Lavar os alimentos pode tirar o excesso, mas não elimina totalmente. "O molho com vinagre ou cloro é importante para matar bactérias, mas não faz nada contra os defensivos agrícolas. Além disso, muitos agrotóxicos penetram dentro do alimento, não ficam só na casca", esclarece.
Para minimizar o impacto das toxinas no corpo, a nutricionista sugere ter uma alimentação rica em fibras e comer alimentos que desintoxicam couve, repolho, couve-flor, brócolis, alho, cebola, ervas, chá verde, limão, alcachofra, própolis e boldo. Outras dicas são consumir frutas e verduras da época e beber bastante água.
Os efeitos da alimentação saudável são significativos para o organismo, segundo Soraia. O consumo diário de frutas, verduras e legumes, que deve estar presente em todas as refeições, contribui para diminuir os riscos de doenças crônicas não-transmissíveis e têm capacidade antioxidante.