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Comportamento

Como resgatar o prazer da leitura?

O estudante Stênio Fornari, de 14 anos, gosta de ler biografias e baixar livros pela internet: ele leu dez obras no ano passado | Marcos Labanca/Gazeta do Povo
O estudante Stênio Fornari, de 14 anos, gosta de ler biografias e baixar livros pela internet: ele leu dez obras no ano passado (Foto: Marcos Labanca/Gazeta do Povo)

Metade dos brasileiros declara não ler por falta de tempo e outros 30% dizem não gostar de livros. Os dados, da pesquisa Retratos da Leitura, evidenciam o tamanho do desafio que é estimular esse hábito no Brasil. Para educadores e escritores, o problema é que ler deixou de ser uma prioridade na vida das pessoas.

O índice de leitura do brasileiro (quatro livros por ano em média – dos quais 2,1 livros são lidos inteiros e dois em partes) é baixo se comparado a outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Os franceses leem em média sete livros ao ano, os chilenos 5,4 e os argentinos 4,6. A meta do governo é fazer com que a população leia pelo menos dez obras ao ano.

Poeta e professor aposentado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alcides Buss diz que no Brasil não há leitura como passatempo, ao contrário de outros países. Para ele, o cenário é ainda pior do que o apontado pela pesquisa, que leva em conta livros didáticos e paradidáticos. "Se chegarmos a este patamar de quatro livros ao ano será fantástico", diz.

Para mudar essa realidade, Buss sugere fazer campanhas nacionais de incentivo à leitura e valorizar os autores brasileiros. "Nos últimos anos, o foco está muito em cima dos best-sellers. Os nossos autores ficaram em segundo plano", afirma. "Também é preciso baratear o preço dos livros e tornar as bibliotecas mais dinâmicas", completa.

Professor da Universidade Estadual de Campinas (Uni­camp), Ezequiel Theodoro da Silva considera que o país acumula uma dívida imensa com a promoção da leitura, por isso, hoje há múltiplas e imensas barreiras para os brasileiros lerem mais. "A política atual privilegia muito mais a produção e distribuição de livros, satisfazendo os editores, mas pouco contempla a leitura. Quer dizer, temos livros, mas não mediadores e a infraestrutura de que eles necessitam para formar leitores", analisa.

Para ele, as bibliotecas brasileiras, com raras exceções, fazem um trabalho muito tímido de divulgação e não atingem as diferentes camadas da população.

Valorização

Envolver a sociedade em campanhas de leitura é um caminho para valorizar o livro, diz a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marta Morais da Costa, que faz parte da Cátedra da Unesco de Leitura. Ela afirma que a leitura é uma responsabilidade da sociedade – escola, família, igreja e empresas. Inúmeras ações precisam ser tomadas para transformar a realidade, inclusive, cobrar leituras de qualidade em concursos públicos e promover mais o livro na mídia.

Carmem Pimentel, coordenadora nacional do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), do governo federal, concorda que o estímulo à leitura precisa partir da família e da escola, mas aponta outro problema: "Os professores não são leitores. Como eles vão estimular os alunos?".

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