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A Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) nega qualquer irregularidade no projeto de gestão comunitária ou no processo de regularização fundiária de áreas ocupadas, feito em parceria com bancos internacionais. Segundo Rosângela Curra Kosak, funcionária de carreira e atual diretora-presidente da companhia, o objetivo das parcerias é construir unidades a baixo custo e reduzir o déficit habitacional do estado, estimado em 260 mil famílias – 230 mil em área urbana, sendo 85% dos sem-teto com renda de até três salários mínimos. "O nosso desafio é atender famílias pobres e oferecer um financiamento que essa população possa efetivamente pagar."

A diretora afirma que o projeto é legal e tem parecer favorável do departamento jurídico da empresa e do Tribunal de Contas do Estado. Segundo ela, o expediente funciona da seguinte forma: "A Cohapar ajuda a formar a associação após fazer todos os levantamentos necessários. Discute o projeto com os mutuários, contrata agentes financeiros e começa a obra".

De acordo com a Cohapar, o negócio não tem intermediários, por isso todos os benefícios, inclusive fiscais, são passados ao proprietário final. A interferência de técnicos da empresa nas associações, movimentando com procurações as contas bancárias das entidades, comprando material de construção e pagando mão-de-obra, é considerada normal pela direção da empresa. "Serve para garantir a execução da obra e para baixar os custos, entre outros benefícios", declara.

A diretora da empresa confirma que seus colaboradores cotam preços e avaliam a qualidade de materiais. "Aqui se compra mais barato. Pode-se até comprar em outro lugar, mas com preço igual, ou inferior." Segundo a Cohapar, as compras são feitas pelas associações, mas com orientação dos engenheiros da obra, o que baixa em 45% o preço final das unidades. Questionada sobre essa ingerência nos grupos, mediante procurações, Rosângela Kosak responde. "Você acha que se eu dissesse para o líder comunitário, ‘pega aqui, eu te dou R$ 1 mil e se vire, compre 10 mil tijolos’. Ele teria essa capacidade? Por isso, ele é orientado pelo engenheiro", afirma.

De acordo com a presidente, a empresa dispõe de uma central de custos, que levanta todos os preços para todas as obras. "Ela orienta o engenheiro (que movimenta a conta corrente da associação) na compra do material pelo menor custo." Para ela, que lembra estar fazendo prestações de contas, não se pode avaliar o programa pelo que ocorre em algumas associações. "Defendo com unhas e dentes a Cohapar. Os problemas de três parcerias, com 600 unidades, não representam a realidade existente nas milhares de moradias produzidas no estado."

A presidente destaca que o projeto, que recebeu prêmio nacional de qualidade da associação das Cohabs, é transparente. "O sindicato da construção civil fez uma denúncia ao Ministério Público, que não encontrou irregularidades no programa. Não é possível só se preocupar com quem assina o cheque, mas com dignidade, cidadania. É preciso entender a gestão comunitária num contexto."

Para o arquiteto Rafael Dely, presidente da Cohapar no governo Jaime Lerner, a parceria é uma coisa fantástica, mas a comunidade precisa exercer o seu papel, fiscalizando tudo. "A parceria é muito relativa e, às vezes, o poder público precisa interferir. Não sei como a equipe fazia isso, se comprava e pagava, a pedido das associações, porque esse pessoal tinha um nível cultural baixo", comenta. Segundo Dely, o governo Lerner construiu cerca de 60 mil casas com parcerias.

Luiz Cláudio Romanelli, dirigente da Cohapar até o último dia 31, foi procurado pela reportagem, sem ser localizado. Uma das ligações feitas para o telefone celular de Romanelli chegou a ser atendida por um homem. Após o repórter se identificar, o telefone foi desligado. Outras chamadas feitas não foram atendidas.

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