Nove pessoas presas na Operação Fênix foram transferidas para o Paraná. A operação foi realizada pela Polícia Federal (PF) para desarticular uma quadrilha comandada, de dentro da prisão, pelo traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Por medida de segurança, a polícia não divulgou o destino de todos os detidos, mas confirmou que os mais perigosos seguem para a Penitenciária Federal de Catanduvas e que a mulher do traficante, a estudante de Direito Jaqueline Alcântara de Morais, ficará, em cela comum, na Penitenciária Feminina de Piraquara, região metropolitana de Curitiba.
Cinco dos nove detidos chegaram a Curitiba na madrugada de ontem, em avião fretado pela PF. Na aeronave também foram transportados cerca de 30 malotes com documentos, computadores e celulares. A transferência foi realizada para o estado porque os mandados judiciais foram expedidos pela 2.ª Vara Criminal Federal, com sede em Curitiba.
Segundo as investigações da PF, mesmo preso, Beira-Mar mantinha o comando da organização e do tráfico de drogas e armas. As investigações começaram há um ano e meio, pouco antes de ele ser transferido para Catanduvas, a partir de informações de que o traficante estaria usando celular na carceragem da superintendência da Polícia Federal de Brasília. "Em vez de fazermos a apreensão do aparelho, passamos a monitorar as ligações. A técnica foi produtiva porque conseguimos identificar a hierarquia da organização de baixo para cima", explica o chefe da Coordenação de Operações Especiais de Fronteira (Cosfe), Wagner Mesquita. Com base nesta apurações, a polícia fez treze flagrantes em vários estados e apreendeu 753 quilos de cocaína, 3,65 toneladas de maconha, armas, munição, 11 carros, dois caminhões e um avião.
Quando Beira-Mar foi transferido para a prisão de segurança máxima de Catanduvas, em 2006, a polícia passou a monitorar também as pessoas que visitavam o traficante. Neste período, ele não teve acesso a celular, mas repassaria orientações para os comparsas principalmente a mulher e os advogados. "Os policiais que faziam a segurança da penitenciária não poderiam impedir as visitas, porque era um direito do preso", explica Mesquita.
Aproximação
O delegado diz que foi uma operação difícil porque a organização fazia a lavagem de dinheiro de maneira mais informal. "Eles usavam lava-car, lan house, faziam sociedades fictícias em nomes de laranjas. Por isso levamos um tempo para identificar tudo isso." Beira-Mar comprou uma fazenda no Paraguai, próximo à fronteira com Mato Grosso do Sul, com 330 mil hectares, onde ele mantinha uma pista de pouso asfaltada e criava gado. O gerente da fazenda, Rubens Roberto Olteiro Pinto, foi preso no Mato Grosso do Sul e também deve ser transferido para o Paraná.
Enquanto esteve na prisão de Catanduvas, Beira-Mar montou um esquema de proteção aos que trabalhavam na organização. Advogados e familiares de outros presos eram autorizados a contratar taxistas e a alugar casas na região, onde eles tinham mais liberdade para discutir os negócios. "Isto fez com que houvesse uma aproximação entre organizações de outros estados. Mas como eles não competiam no mesmo espaço geográfico, passaram a se ajudar."
Retribuição
Com o desaparecimento do advogado João José de Vasconcelos Kolling, tido como braço direito do traficante, Jaqueline passou a responder pela organização. Kolling está desaparecido há seis meses e a polícia acredita que ele foi morto a mando de Beira-Mar por ter desviado dinheiro da quadrilha.
Jaqueline é estudante de Direito e dava consultoria à organização. Há informações, não confirmadas pela polícia, de que Beira-Mar financiava cursos de Direito e concursos da Polícia Federal para algumas pessoas da organização. Depois elas prestariam serviços em retribuição.