Pesquisa feita com alunos de cursos superiores mostra que há um comportamento “machista” por trás de atos de violência praticados contra mulheres em campi universitários públicos e privados. Os ataques incluem estupros e assédio sexual, além de outras humilhações às mulheres cometidas em festas estudantis, em recepções aos calouros, no caminho de ida ou volta das salas de aula e outras circunstâncias que favoreçam as agressões.
O levantamento – encomendado pelo Instituto Avon ao Data Popular – foi feito com 1.823 estudantes dos sexos feminino e masculino de todas as regiões do país, sendo que mais da metade dos entrevistados (51%) têm entre 16 e 25 anos, 53% são da classe média e 76% estudam em faculdades particulares.
“A pesquisa foi muito importante para quebrar um grande mito de que a violência contra a mulher está fortemente ligado à escolaridade ou ao nível socioeconômico de quem a pratica. Os muros das universidades não estão impermeáveis ao machismo que acontece no restante da sociedade brasileira”, disse Renato Meirelles, presidente do Data Popular.
Segundo Meirelles, 2,9 milhões de mulheres já sofreram algum tipo de violência física nas universidades. “Isso é mais do que a população de 90% das cidades brasileiras.” Para ele, isso atrapalha o bom desenvolvimento do aprendizado e gera uma consequência para o futuro profissional das mulheres.
Para o diretor, depois de formados, os universitários acabam levando para o seu dia dia os efeitos de um comportamento machista, que é multiplicado, e resulta em distorções no mercado de trabalho. Um exemplo disso é o fato de as mulheres desempenharem as mesmas funções de um homem, mas recebendo salários inferiores.
Do total de alunas consultadas, 42% declararam que já sentiram medo de sofrer violência no ambiente universitário. Outras 36% contaram ter deixado de fazer alguma atividade em função desse temor. Nos relatos, segundo o Data Popular, elas justificaram que “têm a percepção de que não apenas criminosos externos, mas também colegas, professores e parceiros do cotidiano podem ser protagonistas de violências, que vão da desqualificação intelectual ao assédio moral e sexual, chegando ao estupro”.
Os casos de estupro foram apontados por 14% das estudantes, e 11% disseram já ter sofrido tentativa de abuso sexual por estarem sob o efeito de bebida alcoólica. Em relação ao assédio sexual, 73% disseram conhecer casos; 56% declararam-se vítimas e 26% confessaram ter cometido algum tipo de assédio. Há situações de professores terem oferecido “presentinhos em troca de uma prova mais fácil”.
As entrevistas foram feitas pela internet. Uma estudante relatou que “uma menina foi estuprada na festa, dormindo. Em outra festa, soube que deram droga para outra sem ela saber, e também foi estuprada”. Já um dos alunos disse que “tem mulher que não se respeita, que usa umas roupas pra se oferecer”.
Os atos classificados como coerção foram apontados por 12% das alunas entrevistadas, e 11% disseram ter sido coagidas a participar de desfiles, leilões ou outras atividades degradantes. Para 27% dos alunos do sexo masculino é normal abusar de uma garota se ela estiver alcoolizada e 35% deles também não consideram ser violência coagir uma mulher a participar de atividades degradantes como desfiles e leilões.
“Se não desnaturalizar o preconceito e a violência contra a mulher, ela vai continuar nutrindo as próximas gerações”, disse a presidente do Instituto Avon, Alessandra Ginante. Ela ressaltou que, desde os primeiros anos de vida, as crianças são estimuladas a ter comportamentos distintos, o que parece normal para a maioria das pessoas.
Alessandra destacou que é comum, na fase da adolescência, a família deixar os meninos livres, fazendo o que querem, enquanto as meninas são educadas com controle de horário, das roupas e das pessoas com quem se relacionam.
A pesquisa foi apresentada na terceira edição do Fórum Fale Sem Medo e faz parte do movimento 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, promovido pelo Instituto Avon.
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