Policiamento em área de Unidade Paraná Seguro (UPS) em Curitiba: para especialistas, adesão da comunidade é fundamental| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Obstáculos

Principal dificuldade é cultural, diz coordenador estadual das UPSs

O coordenador estadual das Unidades Paraná Seguro (UPS), coronel Heraldo Régis B. da Silva, afirma que a "mudança cultural" é o principal obstáculo para melhorar a realidade nas regiões atendidas em Curitiba. De acordo com ele, a população, além de não saber ao certo como participar para ajudar, ainda vê a polícia como um instrumento meramente repressivo – problemas que devem ser ultrapassados com a ampliação dos programas sociais. "O processo é lento e com o passar dos anos teremos uma sociedade mais segura", diz.

Silva ainda destaca que a integração com a prefeitura tem sido positiva. "Estou satisfeito. Há 15 anos milito na área de polícia comunitária e, se eu falasse sobre essa integração no passado eu seria escrachado", brinca.

O coordenador das UPS volta a defender que os policiais devem dar uma resposta à população quando solicitados nas sedes das unidades. Ele admitiu que seus agentes não devem abandonar o posto, mas têm a obrigação de encaminhar a situação o mais rápido possível, priorizando o pedido do morador e pedindo uma viatura mais próxima por telefone.

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Termo

Em janeiro deste ano, o governo do estado, o Ministério Público e a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), entre outros órgãos, assinaram um termo de cooperação técnica para desenvolver um trabalho conjunto a fim de baixar os índices de violência das áreas das UPS. Até agora, o resultado tem agradado tanto ao governo do estado quanto à prefeitura. No entanto, alguns moradores ouvidos pela reportagem nem sequer conhecem as estruturas disponíveis nas áreas de UPS.

23,4% foi a redução no índice de homicídios dolosos (com intenção de matar) no Paraná, nos primeiros nove meses de 2013, em comparação com o mesmo período de 2010. Levando-se em conta os três primeiros trimestres do ano passado, a diminuição é menor, de 17,4%. Em números absolutos, foram 1.907 ocorrências em 2013 contra 2.310 no ano passado. Em Curitiba, a queda na comparação dos primeiros nove meses ficou em 20,6% em relação a 2012. Os números fazem parte de um levantamento preliminar feito pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e divulgado ontem (Sesp).

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De todas as Unidades Paraná Seguro (UPS) instaladas em Curitiba, apenas a do bairro Cajuru ainda não completou um ano. Nesse período, além das mudanças das sedes de contêineres para pequenos imóveis mais estruturados para os policiais, várias ações sociais foram reforçadas. Um alento, mas ainda não o suficiente para diminuir a distância entre Estado e comunidade. A necessidade de ampliação dos serviços sociais é admitida pela própria prefeitura de Curitiba e requisitada pelos moradores.

Um balanço das ações feitas pela prefeitura nas áreas de UPS mostra que a maioria dos serviços já estava disponível nas regiões de abrangência das unidades, mas vários ainda não foram endereçados diretamente para a população que mora próximo aos postos. É o caso da Secretaria Municipal de Saúde, que fez um mutirão de cadastramento de famílias com exames preventivos e escovação de dentes em uma creche na região da UPS do Tatuquara. Apesar deste trabalho específico, a pasta segue sua rotina nas unidades de saúde com campanhas diárias sem vínculos com as UPSs.

INFOGRÁFICO: Dos seis bairros com UPSs, apenas um não teve queda nos homicídios. Confira a radiografia social

"O papel principal da prefeitura é no dia a dia da comunidade", ressalta o coordenador municipal das UPSs, Júlio Haus. Na avaliação dele, a prefeitura já tem intensificado ações nas áreas mais vulneráveis de Curitiba e não apenas nas regiões em que está implantado o programa do governo estadual. "Tem sido positivo na prática o trabalho desenvolvido. Nós nos deparamos com gente carente de tudo", comenta.

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Para estreitar os serviços entre estado e população, as ações deverão ser intensificadas a partir do ano que vem, segundo a prefeitura. De acordo com a assessoria do município, todo o trabalho atual está sendo realizado com o planejamento orçamentário da gestão anterior e, a partir de 2014, haverá um direcionamento específico para atuação nas áreas de UPS.

Desconhecimento

Apesar de governo estadual e prefeitura já citarem avanços nas regiões das unidades, parte da população ainda tem medo da polícia e não sabe quais programas são ofertados. A reportagem da Gazeta passou por cinco UPSs na semana retrasada e ouviu de moradores de todos esses locais as mesmas indagações: dizem não saber se há programas sociais na região e pedem para não ter o nome divulgado por meio de represálias da polícia. Os moradores também relatam que os policiais não podem sair das sedes caso sejam chamados pela população.

"Para mim, UPS e nada é a mesma coisa. O policial não pode sair da sede quando é chamado e não sei de nenhum programa social", afirma um comerciante, da região da Vila Ludovica, no bairro Tatuquara, pertinho da sede da UPS. Na Vila Verde, uma outra moradora reclama do mesmo problema. "Vi uma mulher batendo em uma criança e não havia ninguém para chamar", conta.

Sociólogo defende a participação popular

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O sociólogo Cézar Bueno, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), acredita que falta interação dos governos estadual e municipal com a comunidade nas áreas das Unidades Paraná Seguro (UPS) . "A ideia é boa, mas o governo do estado e a prefeitura chegam com uma proposta sem debater com a população. As pessoas são convidadas a participar do programa quando deveriam ajudar a construir as soluções", afirma o especialista.

Para Bueno, mesmo com as audiências públicas e o planejamento anterior à entrada da polícia nas áreas, há um problema de identificação das necessidades da população. "É preciso inverter essa lógica. Tem que envolver o sujeito, não como consumidor, mas como pessoas capazes de contribuir", explica.

O promotor Paulo Marko­wicz de Lima, que participa das ações do Ministério Público do Estado (MP) nas UPS, reforça o coro pela necessidade de ações sociais mais frequentes. "Não se pode ficar apenas nas feiras de serviços", reforça, referindo-se aos eventos que atendem determinada localidade ao longo de um dia.

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