A Conferência Global de Jornalismo Investigativo iniciada hoje no Rio vai discutir as principais ações contra o trabalho da imprensa que possam restringir a liberdade de expressão. Entre elas, o uso de agências governamentais para espionar jornalistas e veículos de comunicação.
"Encontramos países com agências de investigação que, em grande escala, têm práticas que afetam a liberdade de expressão. São países que recorrem às suas agências de investigação de forma clandestina para espionar jornalistas, para saber quais são suas fontes. E isso precisa ser discutido", afirmou Catalina Botero, relatora especial para liberdade de expressão da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Um dos palestrantes convidados da conferência é o jornalista Glenn Greenwald, autor da série de reportagens sobre espionagem internacional promovida pela agência americana NSA, que teve como alvo inclusive o governo brasileiro.
Na palestra de abertura no campus da PUC-Rio - sede do encontro -, o relator especial da ONU na promoção e proteção da liberdade de expressão e opinião, Frank La Rue, ressaltou a importância de coibir crimes associados à prática do jornalismo.
"Cada ato de violência contra a imprensa que não é investigado pelo Estado é um convite para que aconteçam muitos outros casos", disse La Rue.
Os problemas causados ao trabalho jornalístico por ações judiciais também foram mencionados pelo representante da ONU.
"Nós defendemos a despenalização da injúria e difamação, usadas como forma de censurar o trabalho dos jornalistas por meio de processos judiciais", afirmou La Rue.
A representante da OEA criticou as decisões judiciais influenciadas por esferas governamentais.
"Estamos vendo pessoas sendo processadas por fazer seu trabalho, sujeitas à prisão e a multas, em decisões do poder judicial que, muitas vezes, não estão dissociadas do poder executivo. E isso precisa ser combatido", acrescentou Catalina Botero.
Diante da ameaça constante de processos judiciais, a diretora da divisão de comunicação estratégica do Departamento de Informação Pública da ONU, Deborah Seward, ressalta a importância de o jornalista relatar com precisão a informação.
"Há uma enorme responsabilidade nesta profissão que é fornecer informações precisas, verdadeiras, porque isso em última instância é a melhor forma de se defender daqueles que desejam censurar o seu trabalho", concluiu Seward.
Nesta edição, a Conferência Global de Jornalismo Investigativo é realizada em conjunto por três organizações: Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), "Global Investigative Journalism Network" (GIJN) e o Instituto Prensa y Sociedad (IPYS). O encontro internacional termina na próxima terça-feira.