A nove meses do principal evento global sobre o meio ambiente, a Rio+20, que vai ocorrer entre os dias 4 e 6 de junho de 2012 na capital fluminense, a sensação geral é de déjà vu. Duas décadas após a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Eco-92) também sediada no Rio de Janeiro e que lançou algumas das principais diretrizes para o desenvolvimento sustentável o mundo mais uma vez senta para debater o aquecimento global e as mudanças climáticas, entre outros assuntos, além de rediscutir metas e reavaliar problemas já diagnosticados 20 anos atrás.De lá para cá, a evolução dos indicadores de sustentabilidade caminhou em direção oposta ao aumento da simpatia e da preocupação da sociedade pelas questões ligadas ao meio ambiente. Isso significa que, na prática, poucos compromissos assumidos foram de fato cumpridos: sobraram debates, mas faltaram ações mais efetivas ao longo dos anos. Nesse sentido, para muitos especialistas, a Rio+20 corre o risco de virar um encontro vazio, principalmente por nem prever assinatura de acordos específicos nem estabelecer metas ou prazos a cumprir pelos países.
"Muitas pessoas acham que isso tem um lado positivo, principalmente o Itamaraty, porque não haverá conflito de interesses. Para mim, este é o grande problema da conferência do ano que vem. Economia Verde [um dos temas a serem debatidos na Rio+20] é um assunto muito abstrato e os outros tópicos não terão espaço. A expectativa é conseguir uma grande mobilização no mundo para implementar o que foi decidido há 20 anos", avalia o consultor ambiental Fabio Feldmann.
Legado
Por outro lado, Feldmann acredita que o legado deixado pela conferência de 1992 foi importante, inclusive por ter consolidado o papel das organizações não governamentais. "Esses 20 anos trouxeram coisas boas. Hoje temos uma consciência ambiental maior, mas o que falta é uma articulação política entre governos e sociedades. Ainda há muitos interesses econômicos misturados com interesses socioambientais. Por isso, um dos temas da Rio+20 será a governança para o desenvolvimento sustentável", explica Klaus Dieter Sautter, professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo. Segundo ele, a tendência é que poucos chefes de Estado compareçam a conferência do ano que vem.
"O planeta está cheio de regras e normas, mas do ponto de vista prático não há nada. Estamos destruindo nossa casa desde a Revolução Industrial. Como a China cresce 10% ao ano se não tem nem mesmo água para abastecer sua população? O que está faltando é quebrar esse paradigma de falar bastante nas questões ambientais e fazer pouco", dispara o biólogo José Roberto Borghetti, consultor da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). De acordo com ele, outro fator a ser explorado é o econômico, estabelecendo-se metas e critérios ambientais práticos com os quais todos inclusive cidadãos e empresas se comprometam. "Não adianta reunir os países se, politicamente, o capital não está comprometido com as mudanças necessárias", conclui.
Histórico
Recorde algumas das principais conferências da ONU sobre o meio ambiente:
Estocolmo
- Realizada na Suécia, em 1972, o evento gerou uma declaração que conclamava os povos do mundo a respeitar o ser humano e o meio ambiente.
Montreal
- Em 1987, a deterioração da camada de ozônio levou as nações a se reunirem no Canadá para discutir a redução dos gases CFC (clorofluorcarbono), responsáveis pelo problema. O encontro resultou em um comprometimento formal nesse sentido: o Protocolo de Montreal.
Rio de Janeiro
- A primeira megaconferência sobre o meio ambiente, realizada de 3 e 21 de junho de 1992 no Brasil, serviu para abrir os olhos do mundo ao desenvolvimento sustentável, gerando documentos importantes como a Carta da Terra, a Agenda 21 (com diretrizes de sustentabilidade) e três convenções: Desertificação, Biodiversidade e Mudanças Climáticas, que depois ganharam conferências próprias.
Kyoto
- Em 1997, o Protocolo de Kyoto, assinado no Japão, foi um importante passo para a redução dos gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. Estabeleceram-se metas de redução da emissão de gases em pelo menos 5,2% até 2012. Muitos países, como os Estados Unidos, não assinaram o acordo. O protocolo expira ano que vem e ainda não há um substituto para ele.
Johannesburgo
- Conhecida como Rio+10, ocorreu em 2002, na África do Sul. O objetivo era revisar as metas da Agenda 21. Teve poucos resultados efetivos, mas os países se comprometeram, até 2015, a reduzir à metade o número de pessoas sem saneamento básico.
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Interatividade
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