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Polícia Civil abre inquérito

Parentes das vítimas, o organizador da festa e os donos dos brinquedos prestaram depoimento ontem no 8.° Distrito Policial, no Portão. A investigação sobre o caso, no entanto, ficará com o 3.º Distrito, nas Mercês, já que a equipe que fez o boletim de ocorrência pertence a essa delegacia. Segundo o escrivão Nélson da Silva, o inquérito só poderá ser concluído com a elaboração de um laudo do Instituto de Criminalística, que deve sair em cerca de dez dias. "Todas as testemunhas confirmaram a versão de que um vento muito forte teria levantado os brinquedos", disse Silva.

Segundo o meteorologista do Simepar, Reinaldo Kneib, a estação do instituto em Curitiba, localizada no Jardim das Américas, registrou um vento de apenas 23 km/h, que é considerado fraco. "Pode haver variações de uma região para outra, mas para levantar um brinquedo como esse teria que ser um vento muito forte mesmo, de mais ou menos 100 km/h", explica.

Fatalidade

Ocimar Rodrigues, proprietário da Casquinha Eventos, empresa que locou os brinquedos e organizou a festa, afirmou que o acidente foi uma fatalidade. "Estamos há oito anos no mercado e não tínhamos nenhum registro de acidente."

Rodrigues afirma que não houve negligência com os equipamentos. "Não se usam estacas ou amarras neste tipo de brinquedo. Além disso não havia vento: a ventania veio, levantou um touro mecânico de cerca de 300 quilos e foi embora", explicou.

Para Luís Fernando da Silva, pai do garoto Luís Eduardo Weiber da Silva, morto no acidente, a maneira com a qual o brinquedo foi alçado mostra que faltou algum tipo de amarra. "Faltou uma ancoragem ali."

Playgrounds apresentam riscos

Acidentes com brinquedos de playground são mais comuns do que estamos acostumados a pensar. A declaração é da coordenadora da ONG Criança Segura no Paraná, Alessandra Françóia. Segundo ela, quedas de brinquedos altos estão entre os tipos de problemas que mais freqüentemente levam crianças a pronto-socorros, especialmente em fins de semana.

Os problemas são causados por vários motivos. As próprias características dos brinquedos, altos demais, são o primeiro fator. "As camas elásticas, se não tiverem proteção nas partes de ferro, apresentam um risco grande", diz Alessandra.O segundo motivo é a ausência de monitores junto aos brinquedos. "É sempre necessário ter um adulto responsável. Dependendo do tamanho do brinquedo, é preciso até dois monitores", diz ela.

Alessandra lembra que há necessidade de maior rigor com esse tipo de brinquedo. "Existe uma norma técnica da ABNT. Mas como não tem poder de lei, nem sempre é seguida", diz. Nos Estados Unidos, conta Alessandra, há vários estados que já tornaram obrigatório o uso de capacetes em certos brinquedos.

Um acidente com dois brinquedos durante uma festa de confraternização dos funcionários da Siemens, na Associação Desportiva Classista da empresa, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), matou ontem duas crianças, Amanda Oliveira Vieira, de 8 anos e Luís Eduardo Weber da Silva, de 5. Pelo menos outras oito pessoas ficaram feridas, entre elas quatro crianças.

As causas do acidente ainda estão sendo investigadas. Segundo informações do Corpo de Bombeiros e de testemunhas do acidente, por volta das 13h30, um vento muito forte teria atingido o local, levantando um castelo pula-pula inflável e um touro mecânico a uma distância que chegou a 30 metros. Como não foram registrados ventos fortes na cidade – com força suficiente para levantar um touro mecânico –, a hipótese de o vento ter sido causado por uma falha no brinquedo inflável não foi descartada.

De acordo com os relatos, após ter sido levantado pelo vento, o castelo caiu no chão, derrubando as crianças. O touro mecânico chocou-se contra outros participantes da festa e só parou quando atingiu uma parede de vidro. As duas crianças morreram na hora. Os outros feridos foram encaminhados ao Hospital do Trabalhador e ao Hospital Universitário Cajuru.

Os pais das crianças estavam no local no momento e acompanharam de perto o acidente. O sargento do Exército Luís Fernando da Silva, pai de Luís Eduardo, ainda tentou salvar o filho fazendo respiração boca a boca e massagem cardíaca, mas não teve sucesso. "Fiquei com uma sensação de impotência de não conseguir salvar meu único filho", lamenta. Abalados, os pais de Amanda, Adir e Vera Vieira, não quiseram se pronunciar.

A família Sudul também estava arrasada. A mãe, Maria Sudul, de 83 anos, e duas filhas, Maristela, de 36 anos, e Lurdes, de 44 anos, e a neta de 6 anos, também foram atingidas no acidente. Elas participavam da festa a convite de outra filha, Ana, que é funcionária da Siemens. Às 18 horas, o motorista de ônibus José Sudul, filho de Maria, buscava informações sobre o estado de saúde da mãe no Hospital do Trabalhador, sem obter muitas respostas. "Até agora só sei que ela passou por uma cirurgia no rosto, mas a falta de informações é muito grande."

Os outros participantes da festa que viram o acidente tentaram prestar socorro às vítimas em meio à confusão. A funcionária da Siemens Neide Matias, de 47 anos, afirma que a cena era desesperadora. "Eu estava em uma outra área, mas ouvi um barulho muito forte de vidro quebrando e corri para ver o que era. Todos os pais estavam desesperados, procurando seus filhos. Espero nunca mais presenciar uma situação como essa", conta. Em nota oficial, a Siemens afirma que "vem trabalhando ininterruptamente para apurar a causa do acidente e prestar todo o auxílio às vítimas e suas famílias".

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