Dois trabalhadores sem-terra morreram e ao menos seis ficaram feridos após entrarem em confronto com a Polícia Militar, na tarde desta quinta-feira (7), na cidade de Quedas do Iguaçu, região Oeste do Paraná.
Os dois lados têm versões diferentes para o conflito. Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) afirmou que os policiais foram vítima de uma emboscada e que eles foram ao local para tentar ajudar a combater um incêndio. O MST nega e diz que a polícia foi ao assentamento para tentar retirar o grupo, que ocupa, desde julho de 2014, as terras da Araupel, empresa de reflorestamento. Um líder do MST disse que os membros do movimento é que foram as “vítimas de emboscada”.
Entenda o caso
Relembre os últimos capítulos da história de quase 20 anos de disputa de terra entre famílias de trabalhadores sem-terra e a empresa Araupel, no Centro-Sul do Paraná
Após a troca de tiros, o MST fugiu, segundo a polícia, que diz ter apreendido uma pistola e uma espingarda. A Polícia Civil já abriu um inquérito para apurar os fatos e disse que enviou equipes para o local para resgatar as vítimas – inclusive um helicóptero para remover os feridos. “Além disso, foram destacados policiais militares e civis para a região com o objetivo de reforçar a segurança -uma vez que há uma briga judicial envolvendo o MST e a empresa Araupel”, diz a nota.
Os sem-terra afirmam que mais de 20 pessoas ficaram feridas. Também por meio de nota, eles dizem que foram surpreendidos por um grupo de jagunços, seguranças da empresa Araupel e também da Polícia Militar.
Histórico de ocupações conflituosas
As primeiras ocupações na região Centro-Sul do Paraná aconteceram em meados da década de 90, na esteira de mobilizações organizadas pelo MST em todo país.
Leia a matéria completaO MST argumenta que o local pertence ao Estado. a Justiça Federal, de fato, declarou nulo o título de propriedade da empresa, em maio do ano passado.
Batalha judicial
Uma disputa envolvendo as terras da Araupel já dura 20 anos. Em 2015, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Advocacia Geral da União (AGU) entraram com uma nova ação pedindo a nulidade do título de propriedade das terras da empresa
Segundo o Incra, a ação formulada pela Procuradoria da União e proposta pela AGU é fundamentada nas concessões realizadas no período imperial e que caducaram com o passar dos anos. O Incra argumenta que a Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, ao qual o imóvel estava vinculado, não cumpriu com as obrigações e, em 1923, ocorreu a caducidade da área. “Portanto, a empresa Araupel ocupou irregularmente uma área que é de domínio da União”, disse à época o superintendente do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes.
Araupel informou, em 2015, que atestava a legitimidade do titulo que possui.
A área reivindicada pelo Incra está ocupada por mais de três mil pessoas no acampamento Dom Tomás Balduíno. O confronto desta quinta-feira ocorreu neste local.
“Situação no local é tensa; era uma bomba-relógio”, diz assessor fundiário
- Katia Brembatti
“A gente sabia que não podia ter confronto. Estávamos tentando evitar justamente isso.” A declaração é do assessor especial para Assuntos Fundiários do governo do Paraná, Hamilton Luiz Serighelli, para quem a região de Quedas do Iguaçu se assemelha a “uma bomba-relógio”, prestes a explodir a qualquer momento. Ele está viajando para a região e espera chegar no local às 22 horas desta quinta-feira.
Serighelli comenta que as informações que chegam estão desencontradas, com acusações mútuas de emboscada, e que a prioridade no momento é acalmar os ânimos. Ele conta que está conversando por telefone com várias lideranças da região, com o objetivo de que mais nenhum ato de violência ocorra nas próximas horas. Para o assessor, a concentração de pessoas na área complica a situação, que ele considera tensa. “São 12 mil acampados, mais 12 mil assentados e ainda os 36 mil moradores da cidade”, contabiliza.
O assessor afirma que, nos últimos 11 dias, a Araupel conseguiu trabalhar sem interferências do movimento sem-terra, graças a muita negociação, e que o conflito na região só vai se encaminhar para uma solução quando a Justiça Federal tomar decisões definitivas sobre a propriedade da área.
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