Começa nesta quinta-feira (2) em São Paulo o 10º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que reúne mais de 600 profissionais e estudantes para discutir os caminhos da produção de reportagens. Entre os pontos altos do encontro, que se estende até sábado, estão os grandes temas que mobilizaram a imprensa este ano, como a Operação Lava-Jato e o Swissleaks, o maior vazamento de dados bancários já ocorrido no mundo.
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo julgamento das ações em torno da Lava-Jato, é um dos convidados a conversar com os jornalistas na sexta-feira. A operação, que levou à prisão políticos e empresários, é tema ainda de duas mesas de debates jornalísticos.
No sábado, será a vez do jornalista francês Riss, editor da revista Charlie Hebdo, falar sobre o ataque terrorista que matou 12 integrantes da revista em janeiro passado. Também fará palestra sobre jornalismo investigativo no sábado Dana Priest, do Washington Post.
Considerado o maior vazamento de dados bancários do mundo, o Swissleaks, que revelou contas secretas de personalidades do mundo todo no HSBC da Suíça, ainda pode render mais reportagens no Brasil. Desde março, o GLOBO e o UOL têm divulgado a parte brasileira do escândalo. As reportagens foram tema de debate nesta quinta-feira no 10º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). As revelações levaram governo, Receita e Ministério Público a buscar as autoridades suíças e os parlamentares a instaurarem uma CPI no Congresso para investigar as contas dos 8667 brasileiros no HSBC daquele país. O governo deve receber ainda este mês todos os dados da Suíça.
“De certa forma, nosso trabalho deu uma sacudida nas autoridades brasileiras. A série de reportagens, o trabalho, está em aberto. Não está esgotado. Cabe às autoridades saber a origem e que fim levou esse dinheiro (das contas suíças)”, disse Chico Otávio, um dos repórteres do Globo responsáveis pelo projeto do Swissleaks no Brasil.
Ao lado do jornalista Fernando Rodrigues, do UOL, Chico Otávio falou sobre os critérios de divulgação das reportagens, que se iniciaram com uma extensa lista de pessoas envolvidas em grandes escândalos como o da Previdência, no início dos anos 90, até a ainda em curso Operação Lava Jato. Para ele, o Swissleaks traz novas provas para a reabertura e ampliação das investigações, o que despertou o interesse do Ministério Público Federal.
Na opinião de Fernando Rodrigues, não era papel dos jornalistas, ainda que sob pressão, divulgar a lista com os mais de oito mil nomes ligados ao Brasil com contas no HSBC.
“Não somos policiais, somos jornalistas”, disse Rodrigues, que afirmou que os critérios usados na escolha de cerca 500 nomes divulgados no Brasil foram “o da relevância jornalística combinada com o interesse público. “Divulgar, de maneira irresponsável, é um crime”, disse.
Sem fins lucrativos
O Congresso da Abraji recebeu também o jornalista Evan Smith, criador do “The Texas Tribune”, um projeto de jornalismo online sem fins lucrativos que tem se destacado no meio americano. A palestra foi conduzida pela jornalista Dorrit Harazim, do GLOBO.
O “Texas Tribune” já conta com dezenas de repórteres e conseguiu se financiar plenamente, com uma arrecadação este ano em torno de US$ 31 milhões, a partir de doações individuais, de corporações e fundações, além de participação de associados e realização de eventos.
“Nesse novo cenário de revolução digital, ou os meios se unem para sobreviver ou morremos todos sozinhos. A parceria do GLOBO com o UOL é um excelente caso de como as redações, cada vez mais enxutas, podem aumentar seu poder de alcance. Hoje, temos de fazer cada vez mais (reportagem) com menos (recursos)”, afirmou o presidente da Abraji, José Roberto Toledo.
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