Apesar do risco, as ultrapassagens indevidas são recorrentes: em 2012, o Detran registrou 95.680 casos no Paraná| Foto: Josué Teixeira/ Gazeta do Povo

Fiscalização

Após alteração na Lei Seca, número de infrações aumentou

Dirigir embriagado ainda é um comportamento de risco frequente no trânsito. A modificação na Lei Seca, em vigor desde 29 de janeiro, ampliou de R$ 957,70 para R$ 1.915,40 o valor da multa para quem for flagrado dirigindo alcoolizado. No entanto, o número de infrações cresceu em Curitiba e nas rodovias federais.

Em Curitiba, no primeiro trimestre deste ano, houve 46% mais acidentes de trânsito envolvendo motoristas que beberam antes de dirigir do que no mesmo período do ano passado. A quantidade de prisões de motoristas que estavam sob efeito do álcool cresceu 51% no mesmo intervalo.

Para o tenente Ismael Veiga, do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) de Curitiba, a ampliação do poder de fiscalização trazida pela mudança na Lei Seca é a causa do aumento de registros. "Antes tínhamos só o popular bafômetro, agora podemos usar testemunhas, vídeos e gravações para comprovar que o motorista está bêbado", considera.

O tenente acredita que, com o passar dos anos, a infração de embriaguez ao volante diminua. "Há algumas décadas, as pessoas não usavam cinto de segurança. Isso também aconteceu com o capacete. Mas, com a fiscalização sempre constante, hoje nós vemos que isso é raro."

Nas rodovias federais, a tendência de aumento nos registros de desrespeito se repete. No primeiro trimestre de 2012 foram 8.475 notificações de motoristas alcoolizados, enquanto de janeiro a março deste ano ocorreram 11.702 flagrantes de condutores que dirigiam sob efeito de álcool.

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Riscos

Na avaliação do inspetor Stênio Pires Benevides, da PRF, quem ultrapassa sem ter uma visualização adequada da rodovia tem o mesmo comportamento de risco de quem bebe antes de dirigir. Projetos prevendo penas ainda mais duras nesses casos ainda serão votados pelo Congresso.

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Depois do endurecimento da Lei Seca no fim de janeiro deste ano, com uma resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) que pune o motorista alcoolizado com multa de R$ 1,9 mil, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou ontem à noite um projeto de lei que aumenta a multa para condutores que praticam rachas ou arriscam ultrapassagens perigosas. A intenção da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, que conta com o apoio do governo federal, é intensificar a punição para motoristas com comportamento de risco.

Confira os números de prisões e acidentes nas estradas

O Projeto de Lei 2.592/2007, do deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS), torna a multa por ultrapassagem indevida cinco vezes maior, passando de R$ 191,54 para R$ 957,70. Além disso, o motorista envolvido em racha, que hoje é submetido ao pagamento da multa de R$ 574,60, passa a pagar o mesmo valor devido por motoristas que dirigem sob efeito de álcool.

A proposta aprovada ontem também amplia a punição para os casos de racha que ocasionem lesão corporal ou mortes. A pena, que hoje é de no máximo dois anos de detenção em caso de racha, passa para três. Além disso, em caso de morte, o motorista poderá ser penalizado com reclusão de até dez anos. O projeto passará agora pelo crivo do Senado e, se for aprovado sem modificações, será encaminhado para sanção presidencial.

Mais rigor

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Conforme o presidente da Frente Parlamentar, deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), outros projetos com teor semelhante serão votados neste ano, como o PL 2.872/2008, que aumenta para R$ 1,9 mil a multa em casos de ultrapassagem indevida, multiplicando em dez vezes o valor aplicado atualmente.

Estão em tramitação na Câmara dos Deputados 569 propostas que visam a mudar o Código de Trânsito Brasileiro, em vigor há 15 anos. O tema ultrapassagem está presente em vários dos projetos.

Isto porque esse comportamento de risco normalmente é responsável pelas colisões frontais, um tipo de acidente que costuma ter resultados graves. "Para se ter uma ideia, 3,5% dos acidentes que atendemos são do tipo colisão frontal. É uma porcentagem pequena, mas esse tipo de acidente é responsável por mais de 30% das mortes nas rodovias", explica o coordenador-geral de Operações substituto da Polícia Rodoviária Federal, inspetor Stênio Pi­­res Benevides.

Apesar do risco, a ação é recorrente entre os motoristas. Só no Paraná, em 2012, o Departamento de Trânsito registrou 95.680 ultrapassagens indevidas, um número 16% maior que o de 2011.

O presidente da Comissão de Trânsito, Transporte e Mobilidade da Ordem dos Advogados do Brasil no Pa­­raná, Marcelo Araújo, lem­­bra que é difícil flagrar uma ultrapassagem indevida. Portanto, segundo ele, a multa ampliada teria mais impacto psicológico no comportamento do motorista do que de arrecadação.

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"Mudança deve ser imediata"

Para a presidente do Instituto Paz no Trânsito, de Curitiba, Cristiane Yared, qualquer mudança que torne a legislação mais rígida contra quem praticar irregularidades no trânsito é urgente. "É para agora, o trânsito está matando e precisamos fazer algo de imediato", afirma. Para ela, o aumento na punição, com a elevação do valor da multa, é a saída. "É a única ferramenta que nós temos. As crianças nós ainda podemos educar, mas os adultos nós só podemos punir", acredita.

O deputado federal Mar­­celo Almeida (PMDB-PR), que é membro da Frente Par­­lamentar em Defesa do Trânsito Seguro, não teme que as mudanças em debate sejam vistas como ferramenta para a "indústria da multa", porque considera que a crítica já está incutida na mente do brasileiro. Para ele, é importante disciplinar a cobrança de multa com a erradicação da Ufir e a implantação do parâmetro em real. Segundo Almeida, os valores arrecadados hoje com as multas não cobrem as despesas administrativas dos órgãos de trânsito.

Ele considera ainda que a própria divulgação da rigidez da legislação já assusta os motoristas. "O que muda mesmo o comportamento é a suspensão da carteira ou a necessidade de fazer os recursos de reciclagem", avalia.

O tenente Ismael Veiga, do Batalhão de Policiamento do Trânsito, lembra que historicamente o comportamento do motorista muda a partir de uma intensificação na fiscalização. "É um processo gradual, as pessoas mudam o comportamento não pela consciência, mas pela fiscalização", diz.

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