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7 milhões de seguidores nas redes

Conheça o criador do movimento que orienta jovens a adiarem o início da vida sexual

Nelson Ferreira Neto Júnior com grupo de jovens cristãos em São Gonçalo, no RJ (Foto: Instituto Eu Escolhi Esperar)

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Teólogo, casado, pai de duas meninas, ex-pastor e ex-terapeuta de casais, Nelson Ferreira Neto Júnior é referência entre jovens cristãos. Quando decidiu focar o trabalho de orientação para a vida amorosa nos solteiros, em 2010, não imaginava que em poucos meses estaria rodando o país para dar palestras para adolescentes em igrejas e seria acompanhado na internet por milhões de jovens.

Este ano o Movimento Eu Escolhi Esperar, criado por Nelson Júnior para defender a ideia de abstinência sexual até o casamento, completa uma década com números impressionantes. São cerca de 7 milhões de seguidores nas redes sociais. Milhares de jovens já participaram de seus encontros ou palestras, que não se restringem mais ao Brasil e costumam lotar salões, auditórios e anfiteatros.

Centro de Convenções em Bogotá, Colômbia | arquivo pessoal Nelson Jr.

Além de coordenar esse movimento nas igrejas, Nelson Júnior é fundador do Instituto Eu Escolhi Esperar, uma organização da sociedade civil - sem viés religioso - por meio da qual vem conversando com empresários em busca de apoio financeiro para desenvolver conteúdo para adolescentes. Entre as metas do Instituto para este ano ano estão a produção de história em quadrinhos, peça de teatro e um seriado de televisão. Ele também quer promover audiências públicas em Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas para envolver as famílias na discussão.

Confira a entrevista de Nelson Júnior para a Gazeta do Povo

Por que criar o Instituto Eu Escolhi Esperar se o Movimento Eu Escolhi Esperar já era tão grande?

Nelson Júnior: Havia uma demanda para sairmos dos templos e desenvolvermos palestras, livros e ações para escolas. Recebemos muitos convites ao longo desses 10 anos de pessoas que gostavam das palestras para o público cristão. Elas diziam pra irmos para as escolas. Eram professoras, donos de escola, diretores de colégios municipais, estaduais. Por causa dessa demanda, 4 anos atrás a gente criou o Instituto. Só que ele estava parado. Em maio do ano passado, a ministra Damares [Alves] disse numa entrevista que gostaria muito de conversar com os adolescentes nas escolas sobre abstinência sexual e retomamos o trabalho do Instituto.

Você procurou a ministra para propor a campanha de abstinência sexual para jovens?

Nelson Júnior: Eu já tinha ficado empolgado quando o presidente sancionou a lei que instituiu a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, no terceiro dia de mandato (Lei 13.798, de 03/01/2019). A lei vinha em tramitação há anos. Ali eu vislumbrei uma possibilidade longínqua de cooperar, porque o Movimento, mesmo sendo religioso, já vinha recebendo aquelas moções de aplauso, honra ao mérito e reconhecimento em Câmaras de Vereadores e Prefeituras, que sempre sugeriam que fizéssemos material para fora das igrejas, alegando que o trabalho era de utilidade pública. E em maio, quando a ministra Damares deu essa entrevista, aí realmente fiquei só esperando uma oportunidade de ter acesso a ela.

Em setembro, eu participei de um evento sobre Direitos Humanos em Brasília em que ela também estava e tive a oportunidade de me apresentar e dizer que tínhamos um projeto e que poderíamos ajudar. Ela mostrou interesse, porque já conhecia o Movimento. Marcou na agenda oficial e nos encontramos em novembro. Levei um prospecto que entregamos em empresas quando começamos a buscar parcerias para financiar nossos projetos. E, em dezembro, apresentei os dados científicos na Câmara Federal, no seminário organizado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Fui convidado a dar um depoimento sobre como é falar com adolescentes sobre abstinência sexual.

Você nunca tinha tentado aproximação com governos anteriores?

Nelson Júnior: Não havia espaço. A própria ministra me disse, quando a gente se encontrou, que há 20 anos ela quis trazer pro Brasil um programa americano. Tentou conversar, mas sequer foi atendida. Quando o governo [Bolsonaro] falou que gostaria de lançar uma política pública com a ideia "Escolhi Esperar", retomamos o Instituto, que estava parado. Já temos um seriado gravado anos atrás, com três temporadas. Pensamos em repaginar aquele seriado, porque ele foi gravado num contexto de faculdade e queremos que seja voltado para um público adolescente. Falaram que temos interesse em dinheiro público. Nós não queremos vender nossos projetos para o governo, pelo contrário. O governo teve a iniciativa,  vai desenvolver seus projetos, e nós queremos incentivar a sociedade civil a também fazer ações, porque isso está previsto na Constituição (artigo 227) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É realmente aquele conceito de que a gente precisa depender menos do Estado.

“Não achamos que é uma responsabilidade só do governo. Entendemos que é momento de a gente, como sociedade civil, se unir e ter ações conjuntas. Não podemos ficar esperando que o Estado faça tudo. Uma vez que o Estado anunciou a iniciativa, nós, do Instituto Eu Escolhi Esperar, achamos que temos, como organização da sociedade civil, também o papel de cooperar e acreditamos que várias outras ações de outras organizações nascerão a partir da iniciativa do governo. Para nós, só o fato de a ministra falar já é um ganho incrível pra sociedade.”

Como o Instituto está organizado hoje?

Nelson Júnior: Temos uma comissão científica formada por 14 profissionais: médicos, entre eles ginecologistas, obstetras, pediatras e infectologistas; psicólogos, pedagogos e advogados. Todos são voluntários dispostos a ajudar na criação de materiais para as ações que queremos desenvolver nas escolas.

Que argumentos você usa a favor da divulgação da abstinência como um dos métodos preventivos contra gravidez na adolescência?

Nelson Júnior: A sociedade precisa saber primeiro que a iniciativa da ministra é constitucional, não fere os direitos individuais como andaram dizendo. Pelo contrário, ela atende ao que está escrito no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O artigo 86 fala da política de atendimento ao adolescente e chama a participação da sociedade civil; o artigo 87 inciso III cita a criação de serviços especiais de prevenção e o artigo 88 trata da política de atendimento. Não há nada que fira o Estado Laico ou a Constituição. A segunda etapa é entender o que é ser adolescente no Brasil.

"Segundo o ECA, a adolescência compreende a faixa etária dos 12 aos 18 anos, sendo que a relação sexual com menores de 14 anos é estupro de vulnerável (Código Penal, artigo 118). Isso já foi discutido e confirmado inclusive no STF. Acontece que ele entra na adolescência aos 12 anos, então dos 12 aos 14 esse público precisa receber uma orientação que não estimule o sexo, porque para o Estado e para a Constituição, relação sexual nessa idade é crime. Dos 12 aos 14 anos, o adolescente tem que esperar. Ele tem que ser estimulado a pensar que não é o momento para isso. Esse é o primeiro governo que inclui como política pública a abstinência sexual. O que sempre aconteceu é o que nós chamamos de exclusão reversa. É você excluir um tema da maioria."

Como você viu a repercussão negativa em torno da proposta da ministra Damares Alves?

Nelson Júnior: Eu realmente me espanto com o preconceito com o tema, já que há demanda para isso. A abstinência sexual é importante nessa faixa etária. Aí a imprensa me pergunta o que que eu acho daquela cartilha que o presidente mandou cortar. Todo e qualquer material que estimule a relação sexual nessa idade abaixo de 14 anos é crime. Já estamos organizando também uma comissão jurídica para que comecemos a fazer voz para os casos, como o de uma professora da minha cidade (Vila Velha-ES) que passou como dever de casa para crianças de 11 anos uma pesquisa sobre sexo oral. É crime. Os educadores que começarem a insistir com esse tipo de material inadequado para a idade precisam ser questionados judicialmente. A mãe pegou a filha de 10 anos pesquisando no Google sobre sexo oral porque a professora tinha pedido. A gente não pode ficar calado.

Essa pauta não é de uma religião. Essa pauta vem ao encontro do anseio da grande maioria dos brasileiros. Quando um caso desses acontece, quem reage é a sociedade como um todo. Eu tenho sido abordado fora dos templos. O Instituto Eu Escolhi Esperar vai fazer frente, dar voz para fortalecer a iniciativa pública. Vai somar. Eles não estão criando algo para nos atender. Nós vamos comprar essa briga de por a nossa cara na rua, de ir pro debate, porque esse tema tem que envolver a família.

Qual é a primeira campanha que o Instituto pretende fazer?

Nelson Júnior: Já tem nome: "Esperar Também É Uma Escolha". Vamos dialogar com a sociedade em audiências públicas para mostrar que essa pauta não é religiosa. Esse tema é da família. Temos estudos, relatórios e comprovações científicas para provar que é preciso fazer esse diálogo. O 13.° Anuário de Brasileiro de Segurança Pública do Ministério da Justiça, que é um relatório sobre violência no Brasil, informou em 2018 que o Brasil tem 4 meninas de até 13 anos estupradas por hora. A Sociedade Brasileira de Pediatria diz que nos últimos 20 anos 13 milhões de adolescentes engravidaram no Brasil e que a gravidez precoce é responsável por 20% das mortes de adolescentes do sexo feminino. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil lidera o ranking de gravidez de adolescentes na América Latina. Já os principais órgãos de saúde dos EUA concordam que a abstinência sexual, somada a métodos contraceptivos, proporciona os melhores resultados com adolescentes.

Pretendemos fazer a primeira audiência pública na Assembleia Legislativa do Espírito Santo e estamos conversando também com vereadores da Câmara Municipal de São Paulo, com alguns deputados federais e até senadores para termos debates lá em Brasília com os parlamentares.

O que defende o Instituto Eu Escolhi Esperar?

Nelson Júnior: O Instituto Eu Escolhi Esperar defende a educação sexual abrangente e eu vibrei quando a ministra disse que as outras políticas públicas serão mantidas, porque isso desmonta o argumento de que não há comprovação científica de que ensinar abstinência sexual funciona. Isso é prevenção primária! E somada à prevenção secundária, à distribuição de camisinhas e pílulas, é justamente o que funciona. Os EUA hoje têm um dos menores índices de gravidez na adolescência no mundo. Em 30 anos caiu 70% o índice por causa da educação sexual abrangente, que fala também de abstinência sexual, aliada a outros métodos contraceptivos. Só que lá nos EUA o governo federal só financia as campanhas de abstinência sexual. Esse é o pulo do gato. Nos países que só trabalham com os outros métodos, sem falar de abstinência sexual, como no Brasil, não funciona. Nós estamos na era da informação, não tem como negar a informação. Vamos dar a informação de maneira responsável.

Qual é a estratégia para convencer os adolescentes a adiar a iniciação sexual?

Nelson Júnior: A estratégia é a do pertencimento. O adolescente quer pertencer a determinado grupo. Hoje eles têm vergonha de assumir que são virgens, porque sofrem bullying, são zoados. Eu começo falando para eles que eu já fui adolescente, também tive vergonha. Eu conto para eles que uma vez num grupo de colegas na escola eu menti, porque todos diziam que não eram mais virgens e eu disse também. Quem me garante que eles, como eu, não estavam mentindo? Nossa experiência nesses últimos dez anos tem mostrado que quando começamos a dizer que esperar também é uma escolha, que está tudo bem, os adolescentes se identificam. De 2012 a 2016, nos encontros ainda nas igrejas, distribuímos pulseirinhas do Movimento Eu Escolhi Esperar. Aquilo virou uma febre, porque eles sentiam “Ah, enfim, encontrei um grupo que me entende”. Quando eles percebem que pessoas pensam como eles é um alívio, se sentem à vontade.

Como é a conversa sobre sexo com os adolescentes?

Nelson Júnior: Eles querem ouvir. Os pais ficam constrangidos de falar (sobre sexo) e, às vezes, quando passam a informação, passam errado. Eu falo abertamente que não é vergonha ser virgem e que adiar o início da vida sexual é uma escolha deles, que ninguém precisa ceder às pressões culturais para se sentir aceito pelos amigos. Conto minha história pessoal.

Qual é seu objetivo?

Nosso desejo, como instituto, é influenciar, positivamente, uma mudança na cultura do sexo pra crianças e adolescentes no Brasil. A sociedade brasileira anseia por isso há anos. Tudo é erotizado, tudo é sexualizado. A erotização incomoda os pais. Leva tempo pra colher resultados, é como plantar tamareira. Nosso planejamento é para dez ou vinte anos, mas acreditamos que é possível mudar, influenciando através dos valores.

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