Entre histórias de João e Maria, bruxas e fadas, um grupo de crianças de uma escola municipal de Curitiba aprende o gosto pela leitura em um espaço inusitado: um bosque antes pouco utilizado. Na Escola Lapa, no Boqueirão, este local se tornou o motivo principal da paixão pelos livros que tomou conta das crianças. Criado há um ano, transformou-se em um ponto de encontro disputado pelos meninos e meninas na hora do intervalo. Lá, além de mais de 400 livros à disposição, há redes, mesas, cadeiras, mural de poesia e decoração. O valor investido foi de apenas R$ 417 e mostra que, com pequenas ações, é possível ter resultados que vão influenciar toda a vida escolar dos alunos.A ideia do Bosque das Letras é da professora de Artes da escola, Delma de Oliveira. O trabalho pedagógico de Delma é grande, mas a recompensa é do mesmo tamanho. As amigas Letícia Entralth, 7 anos, Karoline Kruger, 8 anos, Letícia Meller, 8 anos, Annielly Moreno, 9 anos, e Gabriela Rodrigues, 8 anos, estão entre as frequentadoras mais assíduas do bosque. "Quando eu leio uma história com alguma floresta, parece que estou dentro do livro", diz Letícia Meller. Gabriela chegou a fazer uma peça para outras turmas sobre Cinderela após ler o livro no bosque.
Iniciativas para incentivar que meninos e meninas cresçam vendo nos livros uma forma de prazer e desenvolvimento são tentativas para que, no futuro, o brasileiro leia mais. Dados mostram que o país ainda precisar avançar muito nesta área. Uma pesquisa do Ministério da Cultura divulgada mês passado mostrou que 21% das cidades brasileiras não oferecem bibliotecas municipais à população e apenas 39% das escolas contam com este espaço.
Os colégios paranaenses são bem equipados, com 88% dos estaduais e quase 100% dos municipais da capital oferecendo o serviço. Com esses dados, o estado deve ser um dos primeiros a cumprir a nova legislação, que exige a presença de bibliotecas em todas as escolas em até 10 anos, mas o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Guilherme Toledo avisa que, além da biblioteca, é preciso haver um profissional que desperte o interesse dos alunos.
ImaginaçãoNa sala de aula, os professores soltam a imaginação para fazer os meninos e meninas gostarem dos livros. A alternativa mais comum é trazer os personagens das histórias para a vida real, seja por meio de teatro, música ou desenhos. Uma vez por ano o Colégio Erasto Gaertner, no Boqueirão, transforma-se em um palco para a literatura. Além do uso do livro nas disciplinas, os docentes preparam uma semana lúdica com apresentações teatrais, musicais e gincanas. "A criança que lê mais escreve melhor e amplia seu mundo. Há uma diferença significativa", afirma a coordenadora pedagógica Eliane Cristina Fast Kohler.
No Colégio Positivo, uma alternativa encontrada por alguns docentes foi criar a "maleta mágica". As crianças levam para casa, além dos livros, objetos e fantasias que aparecem nas histórias e fazem uma dinâmica com a família. A coordenadora de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental I, Gisele Sprengel, argumenta que os pais também devem participar deste processo, que começa antes mesmo de o filho aprender a ler. "Esse esforço agora vai resultar em leitores mais assíduos no futuro", avalia.
* * * * *
Interatividade
Como estimular nas crianças o gosto pela leitura?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.