Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Novos revolucionários

Consciência política incluída no currículo

Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar | Roberto Custódio/JL
Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar (Foto: Roberto Custódio/JL)

Cobertas com faixas de protesto e sob o alerta da presença de invasores, as portas fechadas do prédio central da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) deram voz nos últimos dias a mais um movimento de protesto, que vez ou outra explode nas universidades. Em 1968, foi a ditadura. Agora, o vilão é o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que prevê ampliação de vagas nas universidades e exige aumento no índice de aprovação. Em todo o país, cerca de dez universidades federais estão ocupadas.

Na pauta, o movimento traz a luta contra a "privatização da universidade pública gratuita e de qualidade". "É um movimento de esquerda porque a gente levanta o que entende por demandas da sociedade, contra os neo-liberais", afirma a estudante de Ciências Sociais, Alexandra Bandoli, 20 anos, que tem o apoio da mãe e entrou na militância por causa do exemplo da irmã mais velha.

Para Alexandra, o movimento é "contestador, coletivo, libertário e comunista". E o método de ação pode ser a ocupação, quando se faz necessária. Dessa forma, os estudantes defendem que a ocupação deve ser negociada como movimentação política e não caso de polícia.

Surgido no Estado Novo, na década de 30, o movimento estudantil representa a contestação aos poderes estabelecidos, com uma pitada de utopia, de acordo com o cientista político Ricardo Costa de Oliveira. "Ele é importante porque coloca limites aos poderes estabelecidos e aponta para dinâmica, para a contestação. Senão, haveria só uma ordem conservadora." Segundo Oliveira, o movimento estudantil dificilmente tem agenda à direita, que não consegue organizar opiniões políticas e mobilizar os jovens.

Dentro do prédio da UFPR, por exemplo, a democracia é prioritária para os universitários. Alexandra conta que as decisões são tomadas em assembléias, que ocorrem várias vezes ao dia. Sete comissões foram montadas para organizar o ambiente, do setor de negociação à limpeza.

A participação feminina também se destaca. "Sinto que a mulher está ocupando seu espaço e tem a mesma capacidade do homem para fazer de tudo e com salto alto ainda por cima", defende a presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE), Fabiana Zelinski. Segundo ela, o movimento estudantil procura o diálogo, mas há a necessidade pressão e enfrentamento.

Na UFPR, o movimento divide opiniões. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) não apóia a ocupação. Os manifestantes foram citados pela Justiça Federal para que paguem R$ 100 por dia de ocupação. O juiz concedeu liminar para a reintegração de posse do prédio, que pode ser feita assim que a Reitoria autorizar. Se houver resistência, a força policial poderá ser utilizada. E a procuradoria jurídica está identificando os responsáveis pelo movimento para que sejam penalizados.

Na época da ditadura, as punições eram prisões e torturas. A professora aposentada Célia Gouveia, que sempre militou na esquerda, lembra que a repressão era grande. No Ensino Médio na escola agrícola, ela levou uma semana de suspensão por falar em um discurso que os professores têm muito a aprender com os estudantes. "O que mudou de antigamente para hoje foi a conjunção de forças. Quando era jovem, estávamos sob a ditadura militar. Ser esquerda, bastava ser contra o regime. Hoje, o totalitarismo que ainda persiste não é muito claro", afirma. Célia é mãe de um dos manifestantes que lutam contra o Reuni.

"A luta pela abertura de vagas era justamente nossa grande luta na época", rebate a jornalista Teresa Urban, que fez parte de uma das maiores rebeliões que a UFPR já presenciou. Em 1968, participou do movimento estudantil pela expectativa de poder agir pelo bem comum.

O ponto máximo do impasse foi a tomada da reitoria da UFPR. Uma quadra inteira foi cercada, barricadas foram montadas e milhares de estudantes invadiram a reitoria. O busto de Flávio Suplicy de Lacerda, ex-reitor da UFPR e primeiro ministro da educação do regime militar, foi retirado do pátio. Hoje, a estátua foi reconstruída e continua presente na reitoria, próxima a ocupação.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.