O marinheiro Alexey Kazanov, 27 anos, preso em flagrante no início do mês passado, acusado de furtar um ônibus em Paranaguá, no litoral do estado, está tendo sua nacionalidade negada por diplomatas da Ucrânia, país onde teria nascido. Se não conseguir provar sua origem, ele terá de pedir asilo em outros países, já que necessita de um passaporte ucraniano para retornar à Argentina, onde mora atualmente.
Segundo o cônsul da Ucrânia em Curitiba, Oleksandr Markov, o marinheiro não apresentou passaporte e não pode comprovar que nasceu naquele país. O secretário da Embaixada da Ucrânia em Brasília, Yuliy Tatarchenko, disse que Alexey pode ser russo. O Consulado da Argentina informou que o marinheiro não tem cidadania daquele país e que só poderá retornar a Buenos Aires, onde vive, se apresentar um passaporte ucraniano com o visto de permanência válido.
Kazanov alega que seu passaporte ficou no navio Galaxys, de bandeira panamenha. O advogado, Eduardo Digiovanni, que representa a empresa Fluvial Mar, armadora do navio, disse que será necessário esperar a atracação da embarcação, que está navegando em alto-mar, para tentar localizar o passaporte de Kazanov.
A divulgação da prisão de Kazanov e de sua nacionalidade ucraniana irritaram os representantes daquele país no Brasil. Segundo o diplomata Tatarchenko, a notícia publicada no site da Gazeta do Povo passou a ser exibida na ferramenta de busca do Google no Brasil, quando eram inseridas as palavras Ucrânia ou ucraniano. A reportagem da Gazeta do Povo foi embasada em inquérito policial instaurado pelo delegado operacional de Paranaguá, José Antônio Zuba de Oliva. No documento, Kazanov é descrito como tendo nacionalidades ucraniana e argentina.
Kazanov disse à Gazeta do Povo que só tem nacionalidade ucraniana e que o documento apresentado na delegacia, e apreendido pela Justiça, é uma carteira de estrangeiro expedida pela imigração argentina. O marinheiro afirma ter nascido em Belogorsk, na Criméia uma república autônoma integrante da Ucrânia. Ele pretende reaver seu passaporte com as autoridades ucranianas, se não encontrarem o seu passaporte no navio.
O sobrenome Kazanov tem origem tártara, segundo os diplomatas, e é comum entre repatriados de outras nações que pertenciam à extinta União Soviética e retornaram à Criméia no início da década de 90. "Para nós, ele só será ucraniano quando apresentar o passaporte expedido pela Ucrânia, após 1991", disse o representante ucraniano em Curitiba.
Em Brasília, a assessoria do Departamento de Imigração do Ministério de Relações Exteriores do Brasil informou que se o marinheiro não comprovar sua nacionalidade, poderá solicitar asilo a outros países, incluindo o Brasil. No entanto, ele deverá antes se apresentar na Polícia Federal.
Sem a definição de sua nacionalidade oficial, Kazanov está sob liberdade provisória no Brasil, morando no Centro de Assistência ao Marinheiro, localizado em frente ao terminal central de ônibus de Paranaguá. Naquele local, no dia 8 de outubro, Kazanov teria furtado um coletivo que estava estacionado com 12 passageiros a bordo. Perseguido e preso pela Guarda Municipal, Kazanov teria dito ao delegado José Antônio Zuba de Oliva, que o autuou, que sua ação fora inspirada em filmes de Jean Claude Van Damme e que pretendia apenas "sentir a adrenalina de uma perseguição policial".
O marinheiro permaneceu dez dias detido, período em que ocorreram duas tentativas de rebeliões na cadeia local.
No dia 19 de outubro, ele foi colocado em liberdade provisória, mas o promotor da Vara Criminal de Paranaguá, Wagner Veloso Hultmann, apresentou denúncia, acusando-o de roubo e de dirigir sem habilitação.